"Não posso dormir com o barulho das águas.
As ondas rancorosas ressoam as mágoas,
De pobres almas que no mar ganharam sentença
Então me levanto, e dou ao oceano minha presença.
A madrugada fria ganha força com vento,
Mesmo em devaneio percebo o aumento
De maré se arrastando lânguida pela areia,
E das sórdidas águas emerge uma sereia.
Não como nas histórias de fantasia,
Pois dessa mulher eu sentia a agonia.
Seu espírito jazia alquebrado
E seu corpo, ao mar acorrentado.
Sua voz rouca implorava por ajuda,
Não consegui mover, senti a garganta muda.
A farroupilha sereia começou a deformar,
Seu fraco corpo e a areia estavam a se misturar;
Num instante de horror e pânico excessivo,
Meu corpo logo me tornou vivo;
Corri para a choupana beira-mar
Tranquei a porta
Esperei a noite acabar.
O medo me fez curioso, embora sentisse uma forte cólica;
Mas venci meu receio, fui entender a aparição diabólica.
Na mesma hora, do seguinte dia, retornei à praia;
Logo em seguida, vi algo preso na raia
Que coloquei para delimitar o lado seguro para nado,
Mas naquela hora
Nadar não seria meu fardo.
Um corpo singularmente familiar,
E quase vomitei
Quando vi
Meu corpo estava a balançar.
Virei-me para ceder ao medo novamente,
Porém, perto da choupana vi algo surpreendente ;
Uma figura se movia em lentos passos :
Possuía duas cabeças
E seis braços.
Proferia sem cessar, um canto em línguas estranhas,
Então logo senti um calor nas entranhas.
Sangue.
Acordo suado e pela janela só vejo o dia raiando,
Olho pela janela e me sinto aliviando.
Tudo não passara de sonho,
Exceto pela poça de sangue em minha cama."
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