sábado, 22 de agosto de 2015

A Lenda de Kathakós

"Sob a terra, descansava Kathakós, a Deusa antiga da pureza.
 Nascida de uma espécie surreal de fogo,
 Que pode arder até embaixo d'água;
 Inspirava o sonho dos apaixonados
 E guardava consigo os suspiros amorosos.

 Diziam que vivia sob o Bosque dos Inseguros,
 Ante a trilha que levava direto ao povoado.
 Suas canções poderiam ser ouvidas,
 Quando os morangueiros estavam em flor;
 Mas só aparecia do noite, e apenas a um homem,
 Cuja música tocasse seu coração de opala.

 A mentira se disfarça de gracejo;
 O lobo se disfarça de cordeiro;
 E o veneno ganha gosto de licor.

 Se os olhos versam sobre o pudor de alguém,
 Não devia ter olhos, o jovem Sêftis.
 Sua natureza concentrava uma arte bela
 E obscura.
 Sua voz se confundia com o canto dos pássaros
 E suas palavras, com o sibilar das cobras.

 Em uma noite de inspiração, foi ao Bosque dos Inseguros;
 Com seu bandolim nas mãos;
 Cantou sozinho entre as altas árvores;
 Até a fome lhe fazer parar para colher morangos.

 Dentre as árvores sai uma estarrecedora figura :
 Uma mulher com o dobro de tamanho do jovem;
 Uma pele cinza-claro,
 E uma sorte de gemas encrustadas em todo o corpo.
 Seus cabelos eram de cor verde-mar, com um brilho intenso;
 Possuía três olhos, cujo um era em sua testa,
 Aparentando ser feito de cristal púrpura.

 Sêftis recuava, ofegante.
 Então a grande mulher para;
 Gentilmente encosta a ponta dos dedos na garganta,
 E canta uma melodia poderosa,
 Que vai além de qualquer uma que o jovem já ouvira.
 A imensa mulher revela ser a Deusa Kathakós;
 E mais, jura amor ao jovem de canção encantadora;
 Oferece-lhe o que existe de mais valioso.

 As visitas de Sêftis ao bosque ficam mais comuns,
 Leva a Deusa uma variedade de presentes,
 E sempre que possível, pede algumas das joias
 Que enfeitam seu corpo.
 As joias são partes da Deusa, não adorno.

Enciumado e ganancioso, o jovem de língua afiada;
Fala coisas à Deusa,
Coisas imundas e desgostosas.
Até que ela comece a sentir algo novo...

Tristeza.

Na noite seguinte, Kathakós não vai ao encontro do jovem,
Mas esse a procura por toda a noite.
Canta às árvores palavras de arrependimento
Que não poderá dizer a quem devia ouvir.

A mística mulher aparece no fim da canção,
E canta algo que diz perdoar o rapaz.
Ela ajoelha e estica a mão
Ele vai devagar ao encontro...
As mãos se tocam.

Com a outra mão para trás das costas,
Sêftis puxa seu punhal e o enterra
No olho de cristal da Deusa,
Fazendo a gema cair na grama.
O jovem a recolhe e corre em disparada.

Com estranha dificuldade de se mover,
E um som baixo de choro,
A Deusa fica de joelhos em meio a floresta
Esperando seu amado voltar
Para lhe pedir desculpas mais uma vez.

O dia amanhece e ele não volta.
Os dias passam e ele não volta.
Os anos passam e ele não volta.

Kathakós volta para o subterrâneo de onde veio
Chora para o fogo,
Lamenta.

Incapaz de cantar outra vez,
A Deusa se parte em milhares de cristais escarlates.
Diz a lenda, que esses cristais virariam os corações
Dos verdadeiros poetas,
Pois são puros como Kathakós foi;
Sem vingança,
Sem medo,
Amando do primeiro ao último minuto."

Dedicado ao coração mais puro que já conheci.
C.

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