"Sob a terra, descansava Kathakós, a Deusa antiga da pureza.
Nascida de uma espécie surreal de fogo,
Que pode arder até embaixo d'água;
Inspirava o sonho dos apaixonados
E guardava consigo os suspiros amorosos.
Diziam que vivia sob o Bosque dos Inseguros,
Ante a trilha que levava direto ao povoado.
Suas canções poderiam ser ouvidas,
Quando os morangueiros estavam em flor;
Mas só aparecia do noite, e apenas a um homem,
Cuja música tocasse seu coração de opala.
A mentira se disfarça de gracejo;
O lobo se disfarça de cordeiro;
E o veneno ganha gosto de licor.
Se os olhos versam sobre o pudor de alguém,
Não devia ter olhos, o jovem Sêftis.
Sua natureza concentrava uma arte bela
E obscura.
Sua voz se confundia com o canto dos pássaros
E suas palavras, com o sibilar das cobras.
Em uma noite de inspiração, foi ao Bosque dos Inseguros;
Com seu bandolim nas mãos;
Cantou sozinho entre as altas árvores;
Até a fome lhe fazer parar para colher morangos.
Dentre as árvores sai uma estarrecedora figura :
Uma mulher com o dobro de tamanho do jovem;
Uma pele cinza-claro,
E uma sorte de gemas encrustadas em todo o corpo.
Seus cabelos eram de cor verde-mar, com um brilho intenso;
Possuía três olhos, cujo um era em sua testa,
Aparentando ser feito de cristal púrpura.
Sêftis recuava, ofegante.
Então a grande mulher para;
Gentilmente encosta a ponta dos dedos na garganta,
E canta uma melodia poderosa,
Que vai além de qualquer uma que o jovem já ouvira.
A imensa mulher revela ser a Deusa Kathakós;
E mais, jura amor ao jovem de canção encantadora;
Oferece-lhe o que existe de mais valioso.
As visitas de Sêftis ao bosque ficam mais comuns,
Leva a Deusa uma variedade de presentes,
E sempre que possível, pede algumas das joias
Que enfeitam seu corpo.
As joias são partes da Deusa, não adorno.
Enciumado e ganancioso, o jovem de língua afiada;
Fala coisas à Deusa,
Coisas imundas e desgostosas.
Até que ela comece a sentir algo novo...
Tristeza.
Na noite seguinte, Kathakós não vai ao encontro do jovem,
Mas esse a procura por toda a noite.
Canta às árvores palavras de arrependimento
Que não poderá dizer a quem devia ouvir.
A mística mulher aparece no fim da canção,
E canta algo que diz perdoar o rapaz.
Ela ajoelha e estica a mão
Ele vai devagar ao encontro...
As mãos se tocam.
Com a outra mão para trás das costas,
Sêftis puxa seu punhal e o enterra
No olho de cristal da Deusa,
Fazendo a gema cair na grama.
O jovem a recolhe e corre em disparada.
Com estranha dificuldade de se mover,
E um som baixo de choro,
A Deusa fica de joelhos em meio a floresta
Esperando seu amado voltar
Para lhe pedir desculpas mais uma vez.
O dia amanhece e ele não volta.
Os dias passam e ele não volta.
Os anos passam e ele não volta.
Kathakós volta para o subterrâneo de onde veio
Chora para o fogo,
Lamenta.
Incapaz de cantar outra vez,
A Deusa se parte em milhares de cristais escarlates.
Diz a lenda, que esses cristais virariam os corações
Dos verdadeiros poetas,
Pois são puros como Kathakós foi;
Sem vingança,
Sem medo,
Amando do primeiro ao último minuto."
Dedicado ao coração mais puro que já conheci.
C.
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