domingo, 6 de julho de 2014

A guerra.

"A guerra.
 Quem pode entender a guerra ? Na falta desse alguém, resta obedece-la.
 Valentes são os corações teimosos que insistem em continuar se amando,contra todas as chances e motivos. Dois desses corações palpitam dentro de um cordeiro e outro dentro de um dragão.
 Em uma terra distante moravam esses cordeiro e dragão.Viviam juntos, como se a natureza concedesse a um suplicante pedido de um bardo desesperado por um tema de canção. E que canção daria se visse como o estranho casal se cuidava mutuamente; mais o dragão do que o cordeiro, do que o cordeiro que o dragão.Isso não mudava os valores. o dragão via o cordeiro como sua joia preciosa, e renegou ao tesouro dos homens para ter um único amuleto a qual cuidar.
 A noite de um dia qualquer cai e os dois se poem a dormir na caverna.O cordeiro se aquecia encolhido junto ao ventre quente do dragão. Nenhum dos dois dormiu logo, a lua cantava silenciosos motes de amor e aventuras passadas, entretendo os até que o cordeiro caísse sob o aconchego da noite. O dragão deitou e fechou os olhos.
 Os berros irromperam noite, misturando-se com o barulho estridente de aço gritante e cintilante.O dragão caminha preguiçosamente até a entrada da gruta e testemunha mais uma vez o esporte preferido do humano : O assassinato, com direito a muito sangue, que faz o deleite da morte aumentar o brilho em seus olhos quando o aço ainda frio esquenta dentro da carne viva de um de seus irmãos.
 Nada que perturbe a paz de uma criatura que já testemunhara centenas de outras guerras, e matara dezenas desses seres frágeis.
 Todos os outros seres eram mais frágeis que o grande dragão. Exceto um certo cordeiro, que dormia tranquilamente, ignorando a loucura do lado de fora.O dragão respeitava a ferocidade do cordeiro. A ferocidade da coragem que o habitava, para uni-los.
 A noite chama pela manhã e anuncia seu fim, junto com a batalha, que manchara as belas planícies com sangue e ferro.
 Nada que incomodasse a majestosa fera.
 Quase nada aliás.
 O cordeiro fraquejava seu caminhar, e seu pêlo tinha sangue e uma substância preta, como um desenho furioso em um tela.
 Ele ia morrer intoxicado com a presença do dragão, e a majestosa fera entendeu isso.
 Um pequeno remorso começou a apagar o fogo de dentro pra fora, até que se lembrou.
 Se lembrou dos ovos no topo da montanha em que estavam vivendo.Ovos no qual seu conteúdo pastoso era um remédio para qualquer enfermidade.
 Certificou-se que o cordeiro estava com comendo bem, e voou rumo ao topo da montanha.
 Lá encontrou acampamentos de guerra, e pessoas em volta de seus ovos.
Não houve medo,receio, ou rancor; queimou os soldados e as tendas que lá estavam com seu fogo que carregava no peito.O mesmo fogo que aquecia o cordeiro de noite. Olhou e ouviu a morte se apossando do lugar e deleitou-se com seu poder sobre a vida. Sentiu a delícia da guerra.
 Após o massacre, pegou os ovos e desceu em direção à caverna.
Avistou alguns humanos teimosos que acamparam em sua caverna.Sentiu repugno ao ver as tais criaturas comendo em volta da fogueira.
 O repugno se misturou com o crescente ódio ao ver ossos e uma lã tingida de preto e vermelho ao lado da fogueira. As bocas humanas sujas de carne qualificaram o maior crime já visto pelo dragão.Os olhos de desespero foram a última reação de vida dentro daquela caverna.
 O dragão sentiu-se como se houvesse gasto o sopro quente de sua vida. Olhou para a batalha que recomeçara. Desejou matar todos aqueles vermes dentro das armaduras.
 Mas só deitou-se e dormiu para sempre.
Quem pode entender a guerra ?