sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A Colmeia - Parte II

A vida secreta das Vespas.

" 5 de Maio
A Colmeia é uma cidadela encouraçada, localizada no coração de uma ilha que é, graças aos céus; perdida. O mundo fora tomado há anos atrás por uma horda de não-se-sabe-o-quê que se recusa a adentrar os mares. Tudo flui perfeitamente aqui, apesar da crise lá fora. Não sabemos o que tomou de assalto nosso velho mundo, mas vemos na atividade extrativista desse curioso combustível "Mel" uma chance de podermos, enfim, reestruturar nosso antigo mundo.

22 de Maio
Uma governante bondosa, porém tão distante; esses bizarros robôs e as curiosas Vespas : Algum desses mistérios eu sinto que devo me aprofundar. Talvez comece por quem me é semelhante.

8 de setembro
Medo, insegurança e um enorme vazio obscuro à frente. Aqui vou eu, com a ajuda do estranho rapaz Isaac e bastante desconfiado sobre o que virá."

Professor R.H. Tylor.

"Tylor e Isaac caminhavam lentamente museu adentro. Uma marcante penumbra e poucas janelas tornavam o lugar com ar claustrofóbico; com uma pitada leve de horror , pelas cabeças de feras estranhas e placas com inscrições complexas. Ambos pararam de frente a uma especial placa. Isaac parou pelo seu entalhe curioso em ouro, e o professor parou porque esta era a razão central de estarem ali.
  O professor explicou ser pesquisador de culturas; mas só podia se interessar por uma das únicas culturas exóticas disponíveis a estudo de campo; a das Vespas. Nunca teve coragem ou oportunidade para se aventurar fora da Colmeia; até o dia que fora chamado para ir na drenagem do poço de Mel. Lá, uma das escavadeiras acertou algo metálico , e as operárias, por alguma razão,decidiram não destruir o achado como qualquer empecilho, mas sabiam exatamente a quem recorrer. Quando chegou à escavação, o professor se deparou com uma placa de dois metros de altura por três de largura e cerca de 25 centímetros de espessura. A placa era simples, sem códigos; mas uma cena peculiar entalhada : Como uma espécie de ídolo, uma grande figura humanoide estava ao centro, de aspecto indescritível - A única parte reconhecível eram um par de pontas que pareciam orelhas ou chifres - Na esquerda do ídolo uma figura com silhueta de mulher trajando um vestido, sendo essa figura com altura de um terço do ídolo; e à direita pequenos seres, proporcionalmente finos e enfileirados.
  Um estranho calafrio transpassou o corpo de Isaac que,um tanto perplexo, se virou para perguntar algo ao professor Tylor, mas viu algo que o deixou completamente paralisado. Por cima do ombro do professor podia-se ver uma Vespa alguns passos atrás; com o ferrão saindo pelo pulso com a mesma paixão que um cavaleiro segura sua espada.
  A boca de Isaac ia começar a balbuciar algo, quando o professor fechou os olhos e suando, concordou com a cabeça. A Vespa começa a se aproximar, levantando o braço com o ferrão na altura dos olhos oculados da máscara metálica.
  Ferrões de Vespa são barras afiadas de prata que, uma Vespa adulta carrega no braço direito, por dentro da carne; e como puderam ver no museu, Isaac e professor Tylor; são retráteis à vontade do usuário. Um desses ferrões vinha na direção da dupla, e brilhava contra a escassa luz do museu.
  A dupla, agora virada para o invasor, estava imóvel e suando frio. A morte vinha a passos lentos, mas parece que algo a deteve.
  A centímetros de distância, rosto-a-máscara estavam Isaac e a Vespa, e esta encarava de muito perto o jovem, como fosse um dos artigos do museu. A Vespa então recua um passo e olha para a placa. Retrai o ferrão, cai de joelhos e seu peito começa a insuflar e esvaziar rapidamente, e um barulho desesperado e abafado vem da máscara, que a Vespa retira com certo requinte, como fosse uma peça de roupa fina. Uma moça ainda mais jovem que Isaac, de cabelos brancos curtos e um pontudo nariz por onde escorriam as lágrimas.
  Estuporado, o professor Tylor ajoelha-se bem devagar e pergunta algo em tom baixo qualquer coisa à Vespa. Uma resposta afirmativa ecoa em doce voz pelo museu e faz os rapazes arregalarem os olhos. Em gestos graciosos e ágeis; esta aponta com a mão para a placa a conta-lhes uma história um tanto curiosa :
 Aonde agora existe a Colmeia, fora apenas uma ilha abandonada. As pessoas se interessavam pela descoberta, paixões, erros, cidades de concreto e ferro e milhas de aventuras pelo mundo inteiro. Em uma noite de forte brilho das estrelas, eles apareceram. Ninguém sabia o que era ou por que estavam lá, e ninguém sobreviveu para relatar qualquer mísero detalhe. O que as lendas das Vespas contam, é que estavam lá para libertar o que adormeceu. Snasitir'Bh era o nome dado pelas Vespas.
  A Vespa apontou para a placa, na gravura do ídolo. Tylor começou a estremecer e Isaac ficou pálido.
  Foram sessões longas de perguntas sobre o povo dela, as lendas, significados...E Isaac apenas perguntou o nome da jovem, se ela tinha um.
  Aurora, era seu nome. A pronúncia dos pequenos lábios pálidos despertou algum incômodo estranho em Isaac. Por fim, ela contou que as Vespas não eram selvagens, mas pessoas fugidas da colmeia. Quando questionada por que alguém fugiria de um lugar tão receptivo e bom, Aurora mostrou um lado obscuro de sua expressão e a ponto de dizer-lhes, a placa então começou a rachar-se sozinha até quebrar, e perdeu seu brilho dourado. Aurora empalideceu rapidamente disse que não havia mais tempo, deviam acompanhá-la. O professor correu a um gabinete e voltou, aos tropeços, com uma pequena bolsa e disse que estava pronto para ir. Isaac fechou a jaqueta vermelha até a gola e acenou com a cabeça. E saíram do museu, caminhando rápido; sem olhar para os lados, mas atraindo a fria atenção dos Zangões.
  Havia um beco estreito , no qual Aurora arrancou do chão uma tampa secreta e disse que o canal dava para fora da colmeia. O professor, sentindo um misto de euforia e medo perguntou à Vespa aonde iriam.
  Ela disse que iriam conhecer a vida secreta das Vespas.

  Queen Bee olhava de seu gabinete, no prédio mais alto da cidade, para baixo; fria e concentradamente. Havia em sua mesa um computador que se desligou ao estralar de dedos da governante. Quando preparou-se para levantar, sentiu algo estranho. O quadro na parede atrás dela possuía uma placa idêntica à placa do museu do professor Tylor, porém menor; que também secou e rachou-se no meio, perdendo seu brilho. Por alguns instantes, Queen Bee ficou parada sem reação; e após um surto de lucidez; mesmo sem expressão, levantou-se e pressionou um botão na lateral da mesa. Um painel eletrônico surgiu em sua frente, com algumas informações em língua estranha, e um gráfico semelhante a um termômetro chamava a atenção. Havia uma meta em vermelho um pouco acima da metade do gráfico, e a barra de cor laranja ultrapassava a meta. Com um gesto veloz do braço, Queen Bee desligou toda a força na sala, pegou uma espécie de bastão com um cristal na ponta e saiu pela porta.

Continua...
 

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