sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O Lobo e o Anjo.

  Perfeito.
Como uma sociedade deve ser,perfeita.
Não há guerra,não há crime,não há dor.
Vivemos afastados de todo o mundo ganancioso,corrupto e egoísta.
Mortes naturais,doenças controladas e vida saudável e longa.
Tudo devido a nosso grande monarca, Rei Thomas.
O respeitamos como se fosse Deus
E tememos como se fosse o Demônio.
  Allan,este é meu nome.
  Minha função é cavar túmulos para abrigar os corpos das pessoas que morrem,
Essa é uma tradição popular nossa.
Sou coveiro.
Gosto de minha profissão, é calma e silenciosa, até demais às vezes, admito.
Moro na rua através do cemitério em que trabalho,torna-se cômodo para ir ao trabalho.
Nove e meia, hora de continuar meu serviço.
   Três horas seguidas abrindo valas, fazendo rondas e olhando estátuas de anjos.
Parei apenas porque uma delas decidiu falar comigo.
Apenas a cabeça de mármore virou-se para falar,com olhos mortos que piscavam
E lábios vazios que se mexiam.
Disse-me : "A terra está corrompidas aos olhos de Deus,e cheia de violência."
Virou-se e voltou a ser estátua.
Continuei naturalmente meu trabalho,
Mas a cena repetia-se periodicamente em minha cabeça e me fazia suar e perder concentração.
Olhos para um lado,para o outro.Inquieto.
   Meia-noite, avisa o relógio da capital. Minha noite está longe de acabar,e as memórias começam a se sentirem acudas pela nova e incômoda.
De repente surge um lobo das altas moitas entre as sepulturas.
Encara e anda devagar,majestoso.Estava pronto para avançar,
Mas sua boca não rosnou,
Falou.
"Sentiste medo ?", perguntou.
Afirmei com a cabeça, mas o resto do corpo paralisado.
"Então estás vivo." Concluiu.
Ligeiro,voraz e desumano como poderia ser, arrancou em uma mordida meu braço esquerdo.
Não pude gritar.Nem quis.
Sangrei,sangrei e meu sangue escorria de seus dentes pontudos e estava em sua língua ,quando tornou a falar :
"Sei que está vivo,então. Amanhã volto para ver se acordou." E retornou por onde veio.
Desmaiei.
   No hospital todos passavam, inexpressivos.
Me dei conta que meu rosto se contorceu bastante durante ontem à noite.
O médico disse que se chama sensação, provocada pela dor
Ou pelo medo.
Disse para ficar em casa alguns dias, enquanto meu braço postiço se habituasse ao organismo.
Era uma prótese orgânica em esqueleto de aço.
   Fui para casa,e lá fiquei olhando fixo para a janela que dava para o outro lado da rua.
Onze horas e fiquei esperando no mesmo lugar.
O sangue ainda estava lá,afinal eu que devia tê-lo limpado.
Estranho não cumprir uma tarefa, todos em país faziam seus trabalhos assiduamente e sem erros,
Acho que fui o primeiro a burlar.
Essa deve ser a sensação de indiferença.
  O lobo vem através da mata, com seus dentes limpos,mas com sangue ainda na língua.
"Se você não acordar, então não necessitará de um coração."
Após a última frase comprimiu o tórax e se preparou para beber meu sangue.
O medo me cobriu com seu véu negro e sussurrou morte nos meus ouvidos.
O lobo veio voraz novamente.
Então freou,quando a estátua do anjo atrás de mim ordenou. Então todas se viraram e repetiram em coro :
"Fora, a espada levará seus filhos e, dentro, o terror se instalará. Todos perecerão: o jovem e a donzela, a criança de peito e o velho de cabelos brancos."
Todas se quebraram e revelaram espadas no interior.
Estiquei minha mão sem olhar para trás e saquei a espada que dava estrutura ao anjo de mármore.
O lobo avançou como se não comesse há dias.
E saltou.
Num momento,num flash, e no meio giro de meu braço armado, arranquei fora sua cabeça.
O sangue manchou todo o gramado.
Ofeguei e então entendi.
Acordei.
Tirei a parte orgânica do meu braço e deixei a estrutura metálica que mais parecia uma garra.
Meus lábios se arquejaram pela satisfação do meu corpo.
Chama-se sorriso.
Andei para fora do cemitério e comecei a enterrar a minha espada no peito de todos que eu via.
Ninguém reagiu, não estavam acostumados com assassinato; tampouco desviavam o caminho de medo.
Era tão natural.
E assim progredi até o centro,
Quanto mais sangue derramava mais me sentia...
Imperfeito.




sábado, 25 de janeiro de 2014

A Casa - Capítulo I

"Alice era jovem desolada que batia à minha porta.O rostinho seco e perdido dizia tudo.Ela queria um lugar para ficar.E ficará.
Levei-a para a sala e ofereci chá e esse bolo que estava na dispensa.
Contou-me toda sua vida amorosa e lua-de-mel fracassada.Fingi estar atento,mas estava concentrado na bolsa dela e o que havia lá dentro.Segredos de mulher vão além.
Ela chorou um pouco e pediu desculpas.Previsível,tanto quanto que ia ficar receosa por dormir em uma casa tão velha até o outro dia.
Carro atolado.Desespero.
Fui limpar pratos e xícaras e me desculpei por não haver algo para passar o tempo.
Quase deixei o bisturi a a agulha cair do bolso do robe.
Me juntei a ela,que se convenceu de ficar.
Seu rosto quase ficara mais lívido até ouvir gemidos e barulho do assoalho de madeira.
Tensão.
Porta do porão se abre e um jovem e sujo rapaz sai de lá,para completar nossa reunião.
Medo começa a sussurra no ouvido da moça e o rapaz olha confuso e assustado.
Mas as portas já estão trancadas,
E a agulha cheia de líquido transparente."

A Casa - Epílogo.

"Silencioso demais.
Morto,cheio de pó e pronto para receber mais deles.Eles virão,estou certo.Sinto em meu sangue velho.
Meu piano está precisando de sua manutenção,minha chaminé suja e devia eu ter outro jardim.
Que não sejam preguiçosos,nem ativos demais.
  O sótão...Sim,ele vai ficar feliz em receber carne nova,já há bastante tempo desde a última vez.Devo tentar arrumá-lo se minha saúde permitir.Envelhecer é difícil,ao mais que sozinho.
  Hora de ligar meu fiel companheiro.Mosca na lâmpada.
  Poeira sobe,tusso bastante.Vou precisar de remédios.Há alguns em minha biblioteca.
Me lembrei que a cerca também está em estado péssimo estado,desnivelada.Há muito o que fazer.
Por falar nisso,barulhos na cerca lá fora.
Parece que o primeiro chegou.
Homem.Cabelos longos,magro.
Porão.
Estou cansado,mas ele não pode me ajudar está desacordado..
Barulhos na porta da frente.Alguém quer atenção.
O segundo chegou.
Ah,uma dama.
Começamos aqui."

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Em algum lugar na escuridão.

Dois dedos de uma bebida quente
Para descer a amargura da rotina,
E ser engolido pelas trevas da madrugada
De repente.

Ruas sem esperanças nem iluminação
Caminho vagaroso e pesado
Turvo piche que infecciona o sapato
E o coração.

Situações corriqueiras que vão devorar dinheiro,
Absorver almas jovens e sobreviver 
Nas vértebra de uma sociedade autodestrutiva, 
Que se organiza entra e filas e empilha papeis com ordens.

Correto e justo demais para ser verdade 
Sem liberdade aparente,portão que se abre só
Casa abandonadas que resmungam vozes antigas,
E seus quadros que observam.

Ponto branco que devia trazer luz à canoa
Está tão lânguida que mal se move,
Doente,mas com radiação própria
Rainha de folhas como coroa.

Vestido branco e enlameado em sua bainha
Monarca que não defende soldados
Nem exige joias cristalizadas
Só as folhas que te tornam rainha.



sábado, 11 de janeiro de 2014

Os Sonhos.

"São os fragmentos de miséria existencial,são os cacos de sofrimento ou as ruínas da mente partida que são sugados pelo Esquecimento ou esmagados pela rotina.
 Nada é suficiente.
 Ciclo miserável que nos cria para morrer e faz todos suportarem o inferno sozinhos,mesmo quando a saída está do lado.
 Saída é a primeira tentação e fugir o primeiro pecado.
 Pecado não é erro.
 Quieto,escuro e voraz.Seu pesadelo tem dentes e garras.Cuide bem dele, é cria sua.
 Alimente-o ao menos uma vez ao mês e não se assuste, porque só irá restar seu medo.
 Medo sufocante viscoso.
 Manhã que vem cavalgando do oeste com a biga de Apolo.Legião do alívio são os raios de sol.
 Escuridão volta para baixo da cama e espreita até a noite com seus olhos abertos.
 Nossa conexão é forte e não me deixa fugir para o esquecimento.
 Brisa da manhã lava minha alma e o sol olha por mim.
 Olhos abertos.
 Calor suave emana dos raios da tarde e beija minha pele.Calma é minha Rainha e silêncio meu Rei.
 Pôr-do-sol.
 Devagar, constante e de um escarlate vivo,cor de sangue, o mesmo sangue que vejo em meus sonhos todas as noites.
 Escuridão rasteja para fora da cama.
 Hora de dormir."