domingo, 6 de setembro de 2015

O pássaro vermelho de Persopunto.

"Sob a vontade dúbia dos Grandes, vivia o povo de Persopunto.
 Banhados pelo Mar do sul e com um grande bosque lotado de laranjeiras à orla do vilarejo; essa pacífica gente compartilhava de comunhão amorosa com a natureza da terra e do mar. Porém a natureza divina mantinha seu grande olho panóptico com singular interesse sobre tão brando povoado.
 O interesse divino já transparecia sua sentença com uma particular condição : Os pássaros da península apenas sobrevoavam o povoado; nunca por lá pousavam. Em uma noite; mais certamente, O festival de teatro infantil; durante um recitação poética de um jovem envergonhado, algo surge para tornar seu medo de plateia em um medo superior : Um ser com máscara de barro em formato de aberto sorriso vazio, com negro e surrado chapéu que lhe cobria toda a cabeça e uma roupa suja de jardineiro estava à distância observando a todos. Incomodado, o prefeito Jaime Carlo foi ter com o forasteiro. Este se limitou aos versos :

Na terra das laranjeiras, as aves não descansam;
Incorreto é o homem que vive sem corrupção
Assistam, enquanto as cinco flores dançam,
Seu desejo virar maldição.

  "Após essa estranha profecia; o sujeito caminhou calmamente em direção ao mar, até sumir dentro das águas.
  Os dias passaram até a primeira experiência de medo daquela gente virar apenas obsoleta memória. Porém a natureza do oculto tem forte palavra, e numa nublada manhã pousa no relógio de sol da ágora um grande pássaro vermelho. Devagar e com difusos sentimentos, as pessoas chegam para observar a belíssima e curiosa ave. Alguns trazem sementes, de abóbora, girassol e laranja; e de bom grado a ave come todas. O mistério que trouxe o pássaro consigo acabara por se tornar um culto de bom sinal pelo inocente povo. Todas as colheitas possuíam tributos à notória ave.
Até o fatídico dia.
As provisões para a grande seca sumiram do estoque, em uma noite. Um falatório desesperado possuiu os arredores dos cinco celeiros, então o prefeito chama o povo para um inquérito que acabara se rumando a um acusatório entre vizinhos. Com perguntas sobre os afazeres daquela noite e quem viu quem em que lugar; o nome de um morador solitário acabara por ecoar algumas vezes seguidas na multidão.
Guido Sotis.
 A massa se voltara para o franzino rapaz ; e seu suor escorria por seu bigode e cavanhaque. As perguntas o pressionavam e o dedo do prefeito apontado para ele ganhava um contexto sentencial. Aos gritos de inocência e armação o jovem era levado pelos homens para ser questionado sobre o paradeiro das provisões.
  Preocupado, o povo foi juntar o que poderia sobrar dos mantimentos.
  Mesmo com o alvoroço, o pássaro não movia uma pena.
  Guido insistia que nada havia roubado, embora ninguém pudesse provar o contrário. Em uma condenação injusta do enraivecido prefeito Jaime Carlo, Guido seria executado,em cinco horas na ágora. Aos berros, fora amarrado na base do relógio de sol, aonde estava o misterioso pássaro.
 Cinco horas,marcava o relógio,e a ave não estava mais lá.
 Sob forte pressão e revolta popular, Guido aceitava e confessava seu crime.
 Balançando como um pêndulo, Guido jazia em contraste ao crepúsculo.
 A comida não retornara, e as lembranças do julgamento do solitário rapaz morriam rapidamente na fome que o povo enfrentava durante a seca. Crianças adoeciam até a morte, enquanto seus enfraquecidos pais lutavam pra manter viva a família com laranjas restantes do fim do outono.
 De longe, observava Guido. Olhava com certo desgosto para o povoado, mais por seu sofrimento do que pela condenação injusta. Guido vira o prefeito vender na calada da noite, e aos poucos, as provisões a um comboio encapuzado. Teve medo de contar, mas quando finalmente sua voz faria justiça, estava com uma corda na garganta. Vestiu uma roupa vermelha e suja de jardineiro, botou seu chapéu...E suspirou antes de por a máscara risonha de barro e sumir pela floresta com o grande pássaro vermelho sobrevoando-lhe."

Escrito sobre os efeitos influentes da lua crescente.