Uma pequena boneca.
Feita em seda encantadora.
Entregue a uma moleca
Se fez uma história aterradora.
A boneca, então, era viva.
Caminha aos tropeços.
Até sua cabeleira era ativa.
Mas do terror, este foi apenas
Um dos começos.
A sombra do medo ali se deitou.
Em casa, a moleca viu o caminhar macabro
Em silêncio agonizou.
A boneca tinha costura nos lábios.
E andou mórbida para os braços da menina,
Que quanto mais gritava
Mas ouvia que a voz afina.
Então a boneca parou.
Refletiu sobre as lágrimas
E a rejeição aceitou.
O amor pela amiga superou o pavoroso engano
Venceu a barreira do natural,
E agarrou a amiga de pano.
A menina então virou mãezinha.
Costurou, passou, cuidou,
E até perdeu horas na cozinha.
Satisfez como pôde a incrível amiga.
Costurou os olhos de botões
E a roupa na barriga.
Então a boneca gostou.
O tempo passou.
A ser viva ? Abandonou !
Cada dia ficava mais parada.
Até com uma boneca se parecia mesmo
Rendeu-se à uma normalidade
Escancarada.
A menina começava a desmoronar
Ela era sua única amiga
E até quem não tinha para onde ir
O corpo decidira abandonar.
Não suportando mais a inércia
Pegou o grimório de seu mago avô
E leu sobre encantos e dimensões
E magias dos cantos escuros da Pérsia.
Troca de corpo.
Se a boneca não quer ser boneca
Que seja menina !
Rezou por desculpas a Deus,
Pois magia é coisa de quem peca.
Puff.
Sangue.
Pano.
Cabala.
Feito.
Sem defeito.
A boneca era menina
E a menina era boneca.
A nova menina se admirou
Por ser de carne novamente
Mas como era só uma maldição
A vida, no pano, não ficou.
A moleca agora não era nem boneca
Nem moleca.
Ficou em uma estante.
Mas indisposta que a nova menina era,
Pôs-se a deitar.
E assim passava o resto dos dias.
Com a vida nova que lhe foi sacrificada
Só aproveitava
Sentada.
Home of Shadows.
quarta-feira, 3 de janeiro de 2018
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Reditus Aeterna Cantiuncula.
De volta da diária carnificina,
Uma Loba velha
Encontra uma abandonada Menina.
Surrado seu vestido,
Sangrando pelos poros.
A Loba ficou de coração partido.
Arrastou a pobre moça para a caverna.
Lá havia água cristalina
Então lavou-lhe o sangue da perna.
Havia caça sobrando,
Amontanhada.
Mesmo com fome, a menina pegou,
Acanhada.
Seus dentes a Loba não mostrou,
Pois sabia que a todos amedrontava.
A Menina, então, tirou o cinto,
Pois o punho da espada
A machucava.
Por dois dias e duas noites,
Se alimentou à moda lupina.
Então uma amizade se deu
Em meio à caverna de uma rapina.
Na terceira noite, a Loba sentiu fome
E um cervo passou na frente da caverna
Bem à vontade.
Sem pensar, a Loba lhe estraçalhou
Sem a menor piedade.
Enquanto se refestelava
Não percebeu:
A Menina em pânico estava.
Não tardou a reagir
De forma ordinária:
Sacou a espada
E cravou no pescoço
Da Loba solitária.
Não se arrependeu.
O sangue, lânguido escorreu.
Sem um apropriado fechar de cortinas,
A Loba, esquecida,
Morreu.
A garota caminhou, sem para trás olhar.
Olhou para o sangue na espada,
Sem pensar em quantas lobas
Sua ingratidão e medo
Iriam matar.
Uma Loba velha
Encontra uma abandonada Menina.
Surrado seu vestido,
Sangrando pelos poros.
A Loba ficou de coração partido.
Arrastou a pobre moça para a caverna.
Lá havia água cristalina
Então lavou-lhe o sangue da perna.
Havia caça sobrando,
Amontanhada.
Mesmo com fome, a menina pegou,
Acanhada.
Seus dentes a Loba não mostrou,
Pois sabia que a todos amedrontava.
A Menina, então, tirou o cinto,
Pois o punho da espada
A machucava.
Por dois dias e duas noites,
Se alimentou à moda lupina.
Então uma amizade se deu
Em meio à caverna de uma rapina.
Na terceira noite, a Loba sentiu fome
E um cervo passou na frente da caverna
Bem à vontade.
Sem pensar, a Loba lhe estraçalhou
Sem a menor piedade.
Enquanto se refestelava
Não percebeu:
A Menina em pânico estava.
Não tardou a reagir
De forma ordinária:
Sacou a espada
E cravou no pescoço
Da Loba solitária.
Não se arrependeu.
O sangue, lânguido escorreu.
Sem um apropriado fechar de cortinas,
A Loba, esquecida,
Morreu.
A garota caminhou, sem para trás olhar.
Olhou para o sangue na espada,
Sem pensar em quantas lobas
Sua ingratidão e medo
Iriam matar.
sábado, 31 de outubro de 2015
Separate Ways - Parte I
O dia dos mortos.
"Erní
observa o sol em seus últimos segundos no horizonte. O Morro da Memória de
Aurora era o ponto mais alto da cidadela de Mikistlicatán; de lá era possível
observar todos os preparativos finais para Lo
día de los muertos. O povo da cidadela acreditava que durante a noite deste
dia, os mortos comungariam o mundo que outrora já lhe pertenceu. Porém também
sabia-se que quando voltavam a estar de pé, os mortos não possuíam espírito (
Yol ) e portanto, apenas o pior da humanidade carregavam em si : Cruéis,
assassinos, vingativos, canibais, e tudo de ruim que suas carnes e ossos
putrefeitos ainda permitissem fazer. Por essa razão, os moradores de
Mikistlicatán saíam da muralha de pedra-e-cipó e enterravam seus mortos no
Jardim da Piedade, a cerca de novecentas braças de distância da cidadela.
Festejavam a vida e a morte por dentro, enquanto os renascidos caminhavam pelo
lado de fora.
Porém havia uma morte irreversível dentro
da cidadela. Uma jovem; que ninguém mais lembra seu nome, origem ou destino;
morrera dentro da estranha estrutura; que como contam lendas e boatos, deveria
ser uma das fundações da Colmeia que seria instalada ali. Misteriosamente; algo
interrompeu a construção, que se tratando dos operários da Colmeia era bastante
ligeira; e ali deixou uma marquise inacabada, com seus muros de metal cromado já
enferrujado e gasto.
O motivo no qual levara a jovem para
dentro das entranhas da sombria marquise era alvo de muitos boatos e histórias,
sempre escutadas de uma conversa de taverna ou em sussuros dispersos pelos
cantos escuros da cidadela. Uma coisa na qual todos concordavam; pois trazia
rastro de existência à lenda; eram os gritos de mulher que vinham de dentro da
marquise, sem hora para acontecer; mas tudo durante a noite. O barulho das músicas,
danças, tagarelas bohêmios e bêbados fazia abafar um pouco o som dos berros.
Por isso, evitavam andar perto das muretas de ferro; excetuando-se os jovens
meninos e meninas que se aventuravam e desafiavam-se a se aproximar o máximo
possível para ouvir de perto um agourento grito. Mesmo os mais valentes se
arrependiam, pois o grito era evidentemente de origem humana, porém contia em
si uma natureza sofria e sombria.
O sol se pusera inteiro, e a noite
esticava seu véu por toda a Federação. Erní se levantara e estava ansiosa para
ir atrás de irmã (Gêmea) Marí. Quando se virou, viu algo totalmente estranho e
perturbador. Três homens de togas vermelho-vinho e capuzes que cobriam todo o
rosto estavam lá, parados. Havia a sensação que estavam a observando por horas;
e como eram tão silenciosos...O medo congelou seu corpo; porém em milésimos de
luta interna tentou um movimento rumo ao penhasco.
Nem pode tentar entender exatamente o que
estava acontecendo ou pelo menos fugir; um baque por trás e desmaiara."
sábado, 24 de outubro de 2015
A Natureza de Gastão.
"Três horas da manhã. Gastão está sozinho no palco do teatro, rodopiando de braços abertos; cantando ou tendo diálogos solitários. Ora uma comédia, ora uma tragédia. No meio de um recital, lembrou-se do papel em seu bolso; parou diante as cadeiras acolchoadas vazias e com ar solene proclamou seu manifesto :
- Oras. mundo indeciso, ou faz-me apaixonar por ti de uma vez ou escarra-me daqui sem demora ! Explica-me o sentido de toda sua violência parecer tão digna do inferno quanto de uma tela do mais inspirado artista. ( Suspira com desgosto e continua )
- Oferece-me os mais saborosos banquetes e orgias; e já em estado de quase total embriaguez me dá como derradeiro presente o remorso. Remorso de ter me aproveitado ao máximo dos meus prazeres de mortal; ou por eu ser apenas o humilde eu mesmo. Se estou a me refestelar animalescamente entre Marzipãs de cacau, vinho, música degradante ou os seios de uma prostituta; saiba, cruel mundo, que já enojei-me da premissa de amor que sempre me prometera e me faz sofrer noites acordados e dias em desânimo total. ( Gesticula como em dança, e olha com ira para a "plateia" )
- Após tamanha decepção, recuso-me novamente a perder meu sono, aguardando a sorte soprar em meu favor. Meu sonos tornam-se hibernações profundas, e meu despertar é desanimado e lerdo. Sem razão para me levantar da cama, encho a taça de vinho e nego ao mundo o prazer de meu sofrimento. Esse ficará guardado apenas comigo. Invejo aqueles que já morreram e não se fazem obrigados a serem conduzidos pelo rebanho do próprio destino. ( As lágrimas escorrem e começa a soluçar ) Porém não o darei mais este sabor, e minha tortuosa viela de vida acaba agora ! ( Trêmulo, saca um punhal cuidadosamente afiado e corta a própria garganta, com paciência e calma odiosa ).
O sangue escorre pelo palco e mancha a madeira de vermelho-vinho.
Da plateia ouve se apenas o lento bater de palmas de Mefistófeles, com seu tamanho inumano e silhueta diabólica coberta pelas sobras do lugar mal iluminado que ocupa.
- Oras. mundo indeciso, ou faz-me apaixonar por ti de uma vez ou escarra-me daqui sem demora ! Explica-me o sentido de toda sua violência parecer tão digna do inferno quanto de uma tela do mais inspirado artista. ( Suspira com desgosto e continua )
- Oferece-me os mais saborosos banquetes e orgias; e já em estado de quase total embriaguez me dá como derradeiro presente o remorso. Remorso de ter me aproveitado ao máximo dos meus prazeres de mortal; ou por eu ser apenas o humilde eu mesmo. Se estou a me refestelar animalescamente entre Marzipãs de cacau, vinho, música degradante ou os seios de uma prostituta; saiba, cruel mundo, que já enojei-me da premissa de amor que sempre me prometera e me faz sofrer noites acordados e dias em desânimo total. ( Gesticula como em dança, e olha com ira para a "plateia" )
- Após tamanha decepção, recuso-me novamente a perder meu sono, aguardando a sorte soprar em meu favor. Meu sonos tornam-se hibernações profundas, e meu despertar é desanimado e lerdo. Sem razão para me levantar da cama, encho a taça de vinho e nego ao mundo o prazer de meu sofrimento. Esse ficará guardado apenas comigo. Invejo aqueles que já morreram e não se fazem obrigados a serem conduzidos pelo rebanho do próprio destino. ( As lágrimas escorrem e começa a soluçar ) Porém não o darei mais este sabor, e minha tortuosa viela de vida acaba agora ! ( Trêmulo, saca um punhal cuidadosamente afiado e corta a própria garganta, com paciência e calma odiosa ).
O sangue escorre pelo palco e mancha a madeira de vermelho-vinho.
Da plateia ouve se apenas o lento bater de palmas de Mefistófeles, com seu tamanho inumano e silhueta diabólica coberta pelas sobras do lugar mal iluminado que ocupa.
sábado, 3 de outubro de 2015
O Canto Perdido.
"A outra vida soprou-me uma canção desesperada; que outrora fora embalada pelas primeiras Vespas nos esgotos e arredores da primeira Colmeia, ainda antes do primeiro horror.
"De um mundo perdido, falamos.
Sem ruas ladrilhadas, só o ranger de máquinas;
O trabalho incessante
O silêncio agoniante,
O medo que consome espaço;
O esperamos das profundezas
Do Oceano;
Mas de nossas entranhas
Vem o cheiro que o atrai;
Os ferrões nos rasgam
Mas é o mel que sai.
A cruel roda do Destino,
Acende e apaga a Lua,
Arbitra por tudo que há
Purifica de forma nua
Em forma de duas expressões;
O cara-e-coroa do existir
E brilho final dos seus olhos
Nas lanças dos Zangões.
O sangue ainda é fresco
E nem por mais mil anos esqueceremos
Do horror que mostrou sua primeira face,
Criado na Cidade das Brumas
Pela desobediência ao Arquimago;
Mistério que se fechou com Abelha-Rainha,
Em sua mão,
Porém nasceu puro
Nos olhos do Centurião.
Que algo tenha piedade
Do que sobrará de nossas almas."
Um terremoto interrompeu a leitura de Mikhail, e quando olhou para a parede norte da Colmeia, viu a coisa se erguendo."
"De um mundo perdido, falamos.
Sem ruas ladrilhadas, só o ranger de máquinas;
O trabalho incessante
O silêncio agoniante,
O medo que consome espaço;
O esperamos das profundezas
Do Oceano;
Mas de nossas entranhas
Vem o cheiro que o atrai;
Os ferrões nos rasgam
Mas é o mel que sai.
A cruel roda do Destino,
Acende e apaga a Lua,
Arbitra por tudo que há
Purifica de forma nua
Em forma de duas expressões;
O cara-e-coroa do existir
E brilho final dos seus olhos
Nas lanças dos Zangões.
O sangue ainda é fresco
E nem por mais mil anos esqueceremos
Do horror que mostrou sua primeira face,
Criado na Cidade das Brumas
Pela desobediência ao Arquimago;
Mistério que se fechou com Abelha-Rainha,
Em sua mão,
Porém nasceu puro
Nos olhos do Centurião.
Que algo tenha piedade
Do que sobrará de nossas almas."
Um terremoto interrompeu a leitura de Mikhail, e quando olhou para a parede norte da Colmeia, viu a coisa se erguendo."
domingo, 6 de setembro de 2015
O pássaro vermelho de Persopunto.
"Sob a vontade dúbia dos Grandes, vivia o povo de Persopunto.
Banhados pelo Mar do sul e com um grande bosque lotado de laranjeiras à orla do vilarejo; essa pacífica gente compartilhava de comunhão amorosa com a natureza da terra e do mar. Porém a natureza divina mantinha seu grande olho panóptico com singular interesse sobre tão brando povoado.
O interesse divino já transparecia sua sentença com uma particular condição : Os pássaros da península apenas sobrevoavam o povoado; nunca por lá pousavam. Em uma noite; mais certamente, O festival de teatro infantil; durante um recitação poética de um jovem envergonhado, algo surge para tornar seu medo de plateia em um medo superior : Um ser com máscara de barro em formato de aberto sorriso vazio, com negro e surrado chapéu que lhe cobria toda a cabeça e uma roupa suja de jardineiro estava à distância observando a todos. Incomodado, o prefeito Jaime Carlo foi ter com o forasteiro. Este se limitou aos versos :
Na terra das laranjeiras, as aves não descansam;
Incorreto é o homem que vive sem corrupção
Assistam, enquanto as cinco flores dançam,
Seu desejo virar maldição.
"Após essa estranha profecia; o sujeito caminhou calmamente em direção ao mar, até sumir dentro das águas.
Os dias passaram até a primeira experiência de medo daquela gente virar apenas obsoleta memória. Porém a natureza do oculto tem forte palavra, e numa nublada manhã pousa no relógio de sol da ágora um grande pássaro vermelho. Devagar e com difusos sentimentos, as pessoas chegam para observar a belíssima e curiosa ave. Alguns trazem sementes, de abóbora, girassol e laranja; e de bom grado a ave come todas. O mistério que trouxe o pássaro consigo acabara por se tornar um culto de bom sinal pelo inocente povo. Todas as colheitas possuíam tributos à notória ave.
Até o fatídico dia.
As provisões para a grande seca sumiram do estoque, em uma noite. Um falatório desesperado possuiu os arredores dos cinco celeiros, então o prefeito chama o povo para um inquérito que acabara se rumando a um acusatório entre vizinhos. Com perguntas sobre os afazeres daquela noite e quem viu quem em que lugar; o nome de um morador solitário acabara por ecoar algumas vezes seguidas na multidão.
Guido Sotis.
A massa se voltara para o franzino rapaz ; e seu suor escorria por seu bigode e cavanhaque. As perguntas o pressionavam e o dedo do prefeito apontado para ele ganhava um contexto sentencial. Aos gritos de inocência e armação o jovem era levado pelos homens para ser questionado sobre o paradeiro das provisões.
Preocupado, o povo foi juntar o que poderia sobrar dos mantimentos.
Mesmo com o alvoroço, o pássaro não movia uma pena.
Guido insistia que nada havia roubado, embora ninguém pudesse provar o contrário. Em uma condenação injusta do enraivecido prefeito Jaime Carlo, Guido seria executado,em cinco horas na ágora. Aos berros, fora amarrado na base do relógio de sol, aonde estava o misterioso pássaro.
Cinco horas,marcava o relógio,e a ave não estava mais lá.
Sob forte pressão e revolta popular, Guido aceitava e confessava seu crime.
Balançando como um pêndulo, Guido jazia em contraste ao crepúsculo.
A comida não retornara, e as lembranças do julgamento do solitário rapaz morriam rapidamente na fome que o povo enfrentava durante a seca. Crianças adoeciam até a morte, enquanto seus enfraquecidos pais lutavam pra manter viva a família com laranjas restantes do fim do outono.
De longe, observava Guido. Olhava com certo desgosto para o povoado, mais por seu sofrimento do que pela condenação injusta. Guido vira o prefeito vender na calada da noite, e aos poucos, as provisões a um comboio encapuzado. Teve medo de contar, mas quando finalmente sua voz faria justiça, estava com uma corda na garganta. Vestiu uma roupa vermelha e suja de jardineiro, botou seu chapéu...E suspirou antes de por a máscara risonha de barro e sumir pela floresta com o grande pássaro vermelho sobrevoando-lhe."
Escrito sobre os efeitos influentes da lua crescente.
Banhados pelo Mar do sul e com um grande bosque lotado de laranjeiras à orla do vilarejo; essa pacífica gente compartilhava de comunhão amorosa com a natureza da terra e do mar. Porém a natureza divina mantinha seu grande olho panóptico com singular interesse sobre tão brando povoado.
O interesse divino já transparecia sua sentença com uma particular condição : Os pássaros da península apenas sobrevoavam o povoado; nunca por lá pousavam. Em uma noite; mais certamente, O festival de teatro infantil; durante um recitação poética de um jovem envergonhado, algo surge para tornar seu medo de plateia em um medo superior : Um ser com máscara de barro em formato de aberto sorriso vazio, com negro e surrado chapéu que lhe cobria toda a cabeça e uma roupa suja de jardineiro estava à distância observando a todos. Incomodado, o prefeito Jaime Carlo foi ter com o forasteiro. Este se limitou aos versos :
Na terra das laranjeiras, as aves não descansam;
Incorreto é o homem que vive sem corrupção
Assistam, enquanto as cinco flores dançam,
Seu desejo virar maldição.
"Após essa estranha profecia; o sujeito caminhou calmamente em direção ao mar, até sumir dentro das águas.
Os dias passaram até a primeira experiência de medo daquela gente virar apenas obsoleta memória. Porém a natureza do oculto tem forte palavra, e numa nublada manhã pousa no relógio de sol da ágora um grande pássaro vermelho. Devagar e com difusos sentimentos, as pessoas chegam para observar a belíssima e curiosa ave. Alguns trazem sementes, de abóbora, girassol e laranja; e de bom grado a ave come todas. O mistério que trouxe o pássaro consigo acabara por se tornar um culto de bom sinal pelo inocente povo. Todas as colheitas possuíam tributos à notória ave.
Até o fatídico dia.
As provisões para a grande seca sumiram do estoque, em uma noite. Um falatório desesperado possuiu os arredores dos cinco celeiros, então o prefeito chama o povo para um inquérito que acabara se rumando a um acusatório entre vizinhos. Com perguntas sobre os afazeres daquela noite e quem viu quem em que lugar; o nome de um morador solitário acabara por ecoar algumas vezes seguidas na multidão.
Guido Sotis.
A massa se voltara para o franzino rapaz ; e seu suor escorria por seu bigode e cavanhaque. As perguntas o pressionavam e o dedo do prefeito apontado para ele ganhava um contexto sentencial. Aos gritos de inocência e armação o jovem era levado pelos homens para ser questionado sobre o paradeiro das provisões.
Preocupado, o povo foi juntar o que poderia sobrar dos mantimentos.
Mesmo com o alvoroço, o pássaro não movia uma pena.
Guido insistia que nada havia roubado, embora ninguém pudesse provar o contrário. Em uma condenação injusta do enraivecido prefeito Jaime Carlo, Guido seria executado,em cinco horas na ágora. Aos berros, fora amarrado na base do relógio de sol, aonde estava o misterioso pássaro.
Cinco horas,marcava o relógio,e a ave não estava mais lá.
Sob forte pressão e revolta popular, Guido aceitava e confessava seu crime.
Balançando como um pêndulo, Guido jazia em contraste ao crepúsculo.
A comida não retornara, e as lembranças do julgamento do solitário rapaz morriam rapidamente na fome que o povo enfrentava durante a seca. Crianças adoeciam até a morte, enquanto seus enfraquecidos pais lutavam pra manter viva a família com laranjas restantes do fim do outono.
De longe, observava Guido. Olhava com certo desgosto para o povoado, mais por seu sofrimento do que pela condenação injusta. Guido vira o prefeito vender na calada da noite, e aos poucos, as provisões a um comboio encapuzado. Teve medo de contar, mas quando finalmente sua voz faria justiça, estava com uma corda na garganta. Vestiu uma roupa vermelha e suja de jardineiro, botou seu chapéu...E suspirou antes de por a máscara risonha de barro e sumir pela floresta com o grande pássaro vermelho sobrevoando-lhe."
Escrito sobre os efeitos influentes da lua crescente.
sábado, 22 de agosto de 2015
O Primeiro Horror.
"Não posso dormir com o barulho das águas.
As ondas rancorosas ressoam as mágoas,
De pobres almas que no mar ganharam sentença
Então me levanto, e dou ao oceano minha presença.
A madrugada fria ganha força com vento,
Mesmo em devaneio percebo o aumento
De maré se arrastando lânguida pela areia,
E das sórdidas águas emerge uma sereia.
Não como nas histórias de fantasia,
Pois dessa mulher eu sentia a agonia.
Seu espírito jazia alquebrado
E seu corpo, ao mar acorrentado.
Sua voz rouca implorava por ajuda,
Não consegui mover, senti a garganta muda.
A farroupilha sereia começou a deformar,
Seu fraco corpo e a areia estavam a se misturar;
Num instante de horror e pânico excessivo,
Meu corpo logo me tornou vivo;
Corri para a choupana beira-mar
Tranquei a porta
Esperei a noite acabar.
O medo me fez curioso, embora sentisse uma forte cólica;
Mas venci meu receio, fui entender a aparição diabólica.
Na mesma hora, do seguinte dia, retornei à praia;
Logo em seguida, vi algo preso na raia
Que coloquei para delimitar o lado seguro para nado,
Mas naquela hora
Nadar não seria meu fardo.
Um corpo singularmente familiar,
E quase vomitei
Quando vi
Meu corpo estava a balançar.
Virei-me para ceder ao medo novamente,
Porém, perto da choupana vi algo surpreendente ;
Uma figura se movia em lentos passos :
Possuía duas cabeças
E seis braços.
Proferia sem cessar, um canto em línguas estranhas,
Então logo senti um calor nas entranhas.
Sangue.
Acordo suado e pela janela só vejo o dia raiando,
Olho pela janela e me sinto aliviando.
Tudo não passara de sonho,
Exceto pela poça de sangue em minha cama."
As ondas rancorosas ressoam as mágoas,
De pobres almas que no mar ganharam sentença
Então me levanto, e dou ao oceano minha presença.
A madrugada fria ganha força com vento,
Mesmo em devaneio percebo o aumento
De maré se arrastando lânguida pela areia,
E das sórdidas águas emerge uma sereia.
Não como nas histórias de fantasia,
Pois dessa mulher eu sentia a agonia.
Seu espírito jazia alquebrado
E seu corpo, ao mar acorrentado.
Sua voz rouca implorava por ajuda,
Não consegui mover, senti a garganta muda.
A farroupilha sereia começou a deformar,
Seu fraco corpo e a areia estavam a se misturar;
Num instante de horror e pânico excessivo,
Meu corpo logo me tornou vivo;
Corri para a choupana beira-mar
Tranquei a porta
Esperei a noite acabar.
O medo me fez curioso, embora sentisse uma forte cólica;
Mas venci meu receio, fui entender a aparição diabólica.
Na mesma hora, do seguinte dia, retornei à praia;
Logo em seguida, vi algo preso na raia
Que coloquei para delimitar o lado seguro para nado,
Mas naquela hora
Nadar não seria meu fardo.
Um corpo singularmente familiar,
E quase vomitei
Quando vi
Meu corpo estava a balançar.
Virei-me para ceder ao medo novamente,
Porém, perto da choupana vi algo surpreendente ;
Uma figura se movia em lentos passos :
Possuía duas cabeças
E seis braços.
Proferia sem cessar, um canto em línguas estranhas,
Então logo senti um calor nas entranhas.
Sangue.
Acordo suado e pela janela só vejo o dia raiando,
Olho pela janela e me sinto aliviando.
Tudo não passara de sonho,
Exceto pela poça de sangue em minha cama."
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