domingo, 21 de dezembro de 2014

A Cidade Das Brumas.

"A palavra faz a magia.
    Era a inscrição gravada em carvalho polido, que recebia os olhares aos portões da cidade das brumas. Apenas olhares, pois em sã consciência, ninguém desejaria se aventurar pela cidade proibida de atmosfera eternamente soturna. Em limites bem definidos com a Cidade das Brumas, estava Isolatua; uma vila pacífica na encosta de uma serra, aonde só os mais suaves ventos cantavam. Entretanto, se estiver na praça central de Isolatua e olhar de costas ao monólito que enfeita o meio da vila, verá os portões eternamente entreabertos da cidade proibida. Então perceberá que os ventos calmos que sopram a paz na vila são na verdade ventos tristes com vozes de uma língua antiga que trazem apenas a paz da morte.
   Não há uma cerca entre a cidade proibida e a vila, que ficam a poucas braçadas de distância uma da outra, tendo nesse entrecaminho apenas guardas imóveis com lustrosas armaduras de aço polido. Quando há iminência de ameaça, sacam as longas espadas e posicionam-se em linha perfeita, sem a mínima hesitação; totalmente automáticos. Contrastam bem com a vila rústica, e de pessoas simples e mineradores de carvão.Nunca souberam quem eram esses guardas nem de onde vieram. Mas sempre que um sumia, outro aparecia em seu lugar instantaneamente. Isso mesmo, sumia, pois não haviam rastros de sangue ou corpos; nem mesmo alguma peça da armadura. Simplesmente desaparecia.
   A cidade das brumas possuía cinco setores : A velha floresta, aonde dizem morar seres vis e de almas podres; O cais, uma construção abandonada voltada para o lago de água turva e parada; O pântano, escondido na margem da floresta; a área da Grande Casa uma das únicas construções que ainda está intacta; e a mais incômoda aos olhos : A Torre do Templo, que não é exageradamente grande, mas sabe-se que abriga o necromante fundador e único morador daquela cidade inóspita. O dito na placa da entrada é única frase compreensível que por ele já fora dita, o resto são murmúrios aterrorizantes em três tempos, que podem ser ouvidos a larga distância.

UTZIPREB ZENIO NEZTLIH !

   Corvos voaram de dentro da cidade das brumas e se espalharam pelo céu. Os mais curiosos saíram da cama para ver se havia novidade pós-grito do necromante, porém se decepcionaram ao se deparararem com o mesmo estranho evento anual. No início da semana de Natal, todo ano o necromante grita ao vento murmúrios variados ou incompreensíveis à distância ou até mesmo de perto. Os arrepios percorrem em uníssono as espinhas de todas as crianças da cidade quando o grito é emanado. Os curiosos voltaram para suas camas quentes, pois amanhã começavam os preparativos da comunidade para o Natal. Se tivessem ficado mais, veriam o clarão verde emanar ligeiramente da velha floresta.
   O dia seguinte começou ensolarado com bastante nuvens para deixar o clima agradável e ameno. o fervor dos vilões com os preparativos de Natal era alto e naturalmente caótico, porém pintava de um vermelho natalino e alegre a pequena Isolatua. O aconchego se estendeu laborioso até o fim do dia, e das casas era possível sentir um...

OKEZT' AREDNEM IZIB !

   O furor foi interrompido pelo grito do necromante. Toda a vila em silêncio observava a torre em silêncio, enquanto o crepúsculo tentava dizer algo timidamente. Quietamente, a praça da vila e suas ruas adjacentes foram se esvaziando. Havia algo diferente naquele ano.
   De noite chovia forte, e os pingos ariscos ricocheteavam nas armaduras dos imóveis guardiões da cidade. A areia da orla ficava densa.Um trovão cai. Alguns segundos após, as nuvens de chuva se agrupam acima do centro da velha floresta.
   Os dias seguintes seguiram-se com o devido furor e alegria do qual começara a semana; e no fim de tarde da véspera de Natal, todos iam à igreja orar,agradecer e fazer seus votos de Natal ao Cristo. A união da cantata em latim era aconchegante e inspirava as histórias bíblicas nos corações dos fiéis. A igreja oferecia ceia farta e música constante, e os risos e conversas altas recheavam de vida o ambiente.
   Madrugada de Natal, a vila estava quieta e escura, e os ventos sopravam o mesmo tom de sempre. Pararam por um instante. A figura do necromante cruza o potão da Cidade das Brumas e caminha lento em direção à vila. Os guardiões o acompanharam severamente apenas com olhares, e quando ele sai do campo de visão destes, voltaram sua atenção ao vácuo do portão da cidade das brumas.
  O rosto do necromante era demasiado branco e seus olhos com pupilas sempre dilatadas olhavam fixo para frente. Andava sempre com a boca aberta e tinha o maxilar alargado, o que lhe cedia um aspecto monstruoso.Andava manco, como se estivesse com uma das pernas quebradas, e trajava uma túnica roxa com a impressão em tinta preta de uma mão espalmada no peito.
  Chegou ao monólito de pedra no centro da vila e tocou-o com sua fina mão esquerda. O monólito emitiu luz branca de seu centro e apagou. Instantes após, três crianças saíam de suas casas em direção ao necromante, num efeito puramente mesmérico. O necromante e as crianças adentraram caminharam em direção ao portão da cidade das brumas.
  Duas moças e um rapaz. Hipnotizados e com os olhos branco-esfumaçados caminhavam atrás do misterioso necromante pela densa velha floresta. Uma das moças acorda inexplicavelmente do transe e antes de gritar tapa sua boca e sufoca sua morte, por mais alguns instantes. Ela sabia o que estava acontecendo. Ela foi escolhida.
  Seguiu o grupo sem desfazer a postura,mas olhava pros lados. Via vultos mancando, dezenas deles. O necromante os arrancava de seu sono para vagarem moribundos pela cidade de denso nevoeiro. Eles passavam por ela e nada faziam além de olhar profundamente em seus olhos. Isso dava desespero à moça.
   Uma voz rouca rasgou o ar como uma seta venenosa : -"Não os ponho de pé para impedir que entrem. Os invoco para impedir que ele saia." Era a voz do necromante, que fez gelado de medo o coração da moça. Ele continuou : -"Eu sei que acordastes, sacrifício, você é a Utarekua." As outras crianças viraram suas cabeças com olhos brancos para trás e encararam com ar vazio a Utarekua.
  Chegaram ao templo com a torre, e o salão principal estava todo preparado e iluminado para uma cerimônia. Doze sombras humanoides com diferentes máscaras, como as que viu nas paredes das ruínas de pedra na floresta. As sombras estavam de costas para um sarcófago na horizontal, e mais atrás um altar com um livro aberto. Na parede de trás havia o desenho de uma pessoa pequena louvando o que seria uma enorme sombra daquelas, com uma máscara de aspecto demoníaco com uma espada. Embaixo haviam três tubulações que levavam a sulcos no chão, que iam em direção ao sarcófago.
  As duas crianças se posicionaram de joelhos em frente aos tubos e abaixaram as cabeças. As sombras voaram vorazes e devoraram as crianças vivas, que não davam sinal de dor.O Sangue escorria pelos sulcos e caía no sarcófago, e então um berro sem sentido quebrou o silêncio do lugar. Dos corpos ao chão saíram as almas das crianças e voaram rápido em direção à boca do necromante, que as engoliu.
   As sombras fazem um corredor entre o sarcófago e a Utarekua. A tampa do sarcófago é gentilmente empurrada e de lá sai um ser com aspecto humano, porém tomado pela escuridão em um preto máximo, como se fosse uma das sombras,entretanto sólida, e embebido em sangue. Possuía a máscara diabólica do registro na parede do templo. Pegou sua espada no sarcófago e veio lentamente na direção da moça, que estava quase em pânico, porém sabia mais do que nunca qual era seu chamado. Seu coração parou de palpitar forte e levantou a cabeça.
  Alatipak era o nome da divindade que vinha marchando lentamente, com a espada em punho. Era o Deus da morte e caminhava pelo mundo dos vivos para estender sua natureza.
  A voz veio do outro lado do templo : -"Se gritares com a criatura, ela recua. Te mata e depois volta ao sono. Você foi escolhida para ser a necromante que agora guarda esta cidade amaldiçoada. Cumpre teu dever e salva nosso povo."
  A criatura possuía aparência horrível.
Tomada pelo medo, Utarekua renunciou seu dever e correu. O necromante antigo gritou palavras velhas, porém não possuía mais seu poder, então não pôde descansar em paz. Fora do templo, na velha floresta, ouviu os gritos desesperados de uma alma que estava fadada à tormenta eterna, e agora, as sombras eram treze.
  Alatipak destruiu a porta do templo e rumou em direção á vila. O Natal fez com que todos descansassem em suas casas, despreocupados.
  A morte era livre para caminhar mais uma vez."

 
 

 


domingo, 28 de setembro de 2014

O Vício.

"Se estiver lendo esta carta, saiba que seu destino fora abandonado quando tocou esse papel.
  As manchas de sangue que trilharam rotas confusas e entrelaçadas pelo vestido branco da moça que me segurava, selavam as últimas atrocidades que esses olhos já viram.
 Até o momento que você a abriu.
 Não se desespere, a morte vai esperar você terminar de ler.

 Prezada Vida,

 Deu-me tudo o que negou para centenas de outras pessoas, me mimou como se fosse teu filho predileto e malcriado. Nunca deixei de mamar confortável em teu seio enquanto o mundo sangrava e se afogava em convulsões e sangrias.
 Nasci com o prestígio de manipular a raça humana através de poder e barbaridades que só uma criança tendo sua própria companhia durante a infância pode proporcionar.
 Lamento ver isso apenas no colo da morte.
 Depois de grande, a vida não foi menos injusta : Possuí dezenas de mulheres como se fossem um artigo de luxo sem alma nem objetivos além; e confesso que após cada delírio que aquelas damas me davam eu punha minha roupa e as mandavam embora, implorando que qualquer uma delas voltasse e me despisse novamente mas não para procurar por mais prazer, e sim para mimar meu coração que implorava por afeto materno.
 Talvez eu devesse parar de levar minhas mães para a cama.
 O rei fora decepado pelos revolucionários e a nobreza virou caça esportiva.
 Nunca vi nada sangrar tanto quanto minha família.
 O vício que me prendia a vida me manteve vivo e alimentado pelas ruas frias.
 O vício que me obrigara a trabalhar para poder continuar a me lambuzar de cerveja preta e prostitutas mais astutas e gananciosas que as da corte.
 Inicia-se a Era do Desencantamento.
 O mundo ficou vermelho e cinza para os mais desafortunados.
 E o que será de mim neste inferno ascendente ?
O trabalho duro tomava conta de mim ao longo dos anos, e os patrões viviam como os verdadeiros porcos da nobreza que eu pertencia.
 Desejo de volta, mais do que tudo, esse chiqueiro.
 Os ouvidos das profundezas mais imersas do inferno têm ouvidos astutos, e como fosse uma resposta, um homem aparentemente rico me aborda na rua, e disse que pode me oferecer de volta tudo que eu já tive. É um mistério como ele sabia, mas minha fome incessante por alimentar os pequenos parasitas do meu desejo falava mais alto.
 Me deu um contrato que dizia que tudo que eu devia fazer era nunca me apaixonar na vida.
 Pedido ridículo, tolo homem.
Me cumprimentou polidamente e disse que eu fosse um mínimo paciente. Cheguei no real chiqueiro que era minha casa atual e me preparava para dormir sem jantar, quando ouço batidas na porta.
 Por razão infantil e covarde não quis abrí-la de imediato. Quando abri vi uma cena deveras incomum : Um dos nobres parara à minha porta e pede abrigo; foi assaltado e estava coberto de sangue, além de fraco e todo ferido. Havia algo interessante nele.
  Era muito parecido comigo, porém mais jovem. O destino sorriu para mim novamente.
Amarrei sua boca e enterrei o moribundo embaixo da minha casa. Peguei suas roupas e rumei ao castelo.
 Duque Wagner era seu nome.
 E agora, o meu.
 Me infiltrei na corte novamente. Meus vermes voltaram a crescer gordos e quietos.
 Descobri que por ser o mais jovem dos nobres, fui prometido à viúva Rainha, para que o país tivesse sua Monarquia restabelecida.
 Passei dias agradáveis com a Rainha, era uma mulher encantadora, e o amor que fazíamos era diferente de todos, pois sentia seu coração parar junto ao meu no fim.
 Lembrei com era ser mimado e tratado como o Rei que eu seria.
 Revolucionários entraram no castelo e inciou-se a matança de  empregados e nobres restantes, impiedosamente.
Me tranquei na grande e impenetrável torre Norte com a Rainha, que chorava em meus ombros.
O silêncio dominou o castelo após algumas horas, e nos amamos apesar de toda a loucura que houvera lá embaixo.
 O mundo pertence apenas aos apaixonados.
 Conversamos sobre a vida, e sem mais explicações sobre os incidentes no começo da Revolução,
 Descobri que ela era minha mãe.
 A loucura devorou qualquer humanidade que havia naquele quarto.
 E em meu bolso estava o contrato que fiz.
 Entendi.
 Pedi para que a rainha me matasse antes de matar a si mesmo.
 Meu espírito não pode carregar este ardil ao túmulo, então o aprisionei neste papel, junto com meu sangue
 E o que sobrou da essência da minha vida."

sábado, 27 de setembro de 2014

A perspectiva e a cegueira.

"Se julgar sábio ou entortar qualquer percepção que toca seus dedos em pura informação racionalizada ou que caiba na memória não pode ser, mas de forma alguma, atrevida a ser tratada como compreensão de mundo ou ambiente.
 Se vê que a vida é o prazer mais valioso, e que o ser que a abriga em seu corpo racionaliza de forma ignóbil; esse ser que sorri pelas pontas com gotas suaves de perversidade e aquela pitada agridoce de cinismo ao fazer a vida aprisionada no corpo do ser que está ao seu lado beber das mais variadas dores do mundo.
 Mundo nosso que todos os dias se levante com o sol nascente e é açoitado pela escuridão e ingratidão, e principalmente as críticas; críticas egoístas e despejadas aos montes exatamente como esta presente.
  Críticas são perspectivas criadas por todos em direção a nada, vês que a natureza é a opressão racional da vida que se manifesta inata e efêmera, nunca natural por excelência, mas paciente e didática para a ignorância.
 A natureza chama a todos. O chamado é quebrado por Adão. As reações "naturais" inatas são respostas para a cegueira causada. Por esse parto sem fim nasce o feto confuso que chamam de ódio. O ódio cresce saudável, e as diferenças entre o não muito semelhante o alimentam como a luz do sol. Se o sol causa esse problemas o bloquearemos ? Sim, e morramos todos nas trevas infinitas que se comunicará com nossas trevas infinitas interiores.
  Se essa perspectiva não pode ser mais combatida, então salva tua própria pele.
E permita que o mundo possa morrer em paz."

domingo, 10 de agosto de 2014

Estão entre nós.

 "Trazê-los à tona não é um erro, eles sempre estiveram entre nós e sorrateiramente ganham forças, até que se revelem e dominem o mundo inteiro.
 Estamos sozinhos.
  Sozinho é uma palavra que o trio de amigos Erik, Isabelle e Samuel não conhecia. Passavam quase todo o tempo juntos, exceto quando Isabelle e Samuel ficavam sozinhos para namorar. Incrível como o namoro não atrapalhava a amizade dos três; pois o casal viva grudado em Erik, como se fosse um líder.Fazia bem esse papel; era um charlatão, fala-mansa e metido a sabe-tudo, mas um rapaz divertido e de fato inteligente. Era o mais alto dos três, o que não era muita coisa, pois Samuel e Isabelle tinham o mesmo tamanho. Assustador, parece que nasceram um para o outro.
  Uma noite nas luzes da cidade. Feromônios no ar fazem a libido dos jovem entrar em erupção.O trio conheceu Elva, uma garota misteriosa, mas que adorava se divertir pelos sons ascos e bebidas alcoólicas que a cidade oferecia em culto á virilidade.A virilidade começava a sussurrar nos ouvidos dos quatro jovens.   Decidiram ir para um lugar mais isolado da cidade,para desfrutar do silêncio do isolamento e também desfrutar da presença atrativa e gostosa que um gerava ao outro.
  Chegaram à grande casa abandonada que ficava a uns 350 metros afastados de um canto da estrada principal da cidade. Havia uma antena nova na casa.
  Era uma casa de madeira trabalhada, muito bela e simples por dentro. Não haviam aparelhos eletrônicos, as luzes eram de velas e lamparinas, que iluminavam muito bem o local. O pessoal estava arrumando a sala e o tapete, enquanto Erik viu um quadro de uma jovem ruiva, com agasalhos antigos. Na parte baixa do quadro dizia : Para Violet.
 Uma mão no ombro de Erik.
 Samuel estava o chamando, o tabuleiro de Ouija estava pronto.
 Conversar com espíritos era um passatempo daqueles amigos curiosos, e Elva concordou sem hesitação.
 Começaram.
 Sinceramente, nunca acontecia nada. Depois da sessão, ficaram contando historias de terror sobre espíritos, mortos-vivos e qualquer coisa que tire sono.
 Chiados. Só Erik os ouviu.
 Quando olhou para ver a reação dos demais percebeu os olhos de Elva procurando os seus
 Fecharam a porta e começaram a se beijar.
 Chiados.
 O copo do Ouija caiu da mesa. Isabelle e Samuel estavam no outro quarto. Silêncio na casa.
 Chiados de televisão.
 Erik gritava pelos amigos para checar se estavam bem. Silêncio.
 Chiados.Barulhos perturbadores.Sons de língua estalando...Como se fosse uma conversa.
 Elva ?
 Erik estava sozinho.
Saiu devagar do quarto.Não saiu todo,à meia porta viu o que parecia carne humana revirada e moída, junto com litros de sangue pelo tapete.
 Pasos rápidos.
 Gritos de Elva.
 Erik ficou cerca de dez minutos dentro quarto, quando decidiu sair para verificar os incessantes gritos de Elva.
 A sala banhada em sangue e um forte chiado. As peles dos rostos de seus amigos no chão causaram náuseas.
 Sombras vistas pelo vão entre a porta do outro quarto e o chão.Os gritos eram fortes lá.
 Erik respirou.
 Contou.
 Abriu a porta devagar.
 Dois seres pequenos ( Da altura de Isabelle e Samuel ) com olhos negros e grandes, com as bocas cilíndricas e esticadas, pele cinza e enrugada, dedos finos, assim como seus braços e pernas e cabeça oval. Esses dois seres tinham Elva presa em uma espécie de mesa cirúrgica, com a barriga aberta. Os seres reviravam os órgãos de Elva como se buscassem examiná-los e ignoravam os gritos de dor.
Elva, pálida, olhou para Erik e disse :
  Fuja.
  Sangue escorreu de sua boca.
  As duas criaturas viraram lentamente as cabeças para Erik, e não paravam de encará-lo e fazer os sons estalidos de língua."

Eles estão entre nós.
Estamos sozinhos.

domingo, 6 de julho de 2014

A guerra.

"A guerra.
 Quem pode entender a guerra ? Na falta desse alguém, resta obedece-la.
 Valentes são os corações teimosos que insistem em continuar se amando,contra todas as chances e motivos. Dois desses corações palpitam dentro de um cordeiro e outro dentro de um dragão.
 Em uma terra distante moravam esses cordeiro e dragão.Viviam juntos, como se a natureza concedesse a um suplicante pedido de um bardo desesperado por um tema de canção. E que canção daria se visse como o estranho casal se cuidava mutuamente; mais o dragão do que o cordeiro, do que o cordeiro que o dragão.Isso não mudava os valores. o dragão via o cordeiro como sua joia preciosa, e renegou ao tesouro dos homens para ter um único amuleto a qual cuidar.
 A noite de um dia qualquer cai e os dois se poem a dormir na caverna.O cordeiro se aquecia encolhido junto ao ventre quente do dragão. Nenhum dos dois dormiu logo, a lua cantava silenciosos motes de amor e aventuras passadas, entretendo os até que o cordeiro caísse sob o aconchego da noite. O dragão deitou e fechou os olhos.
 Os berros irromperam noite, misturando-se com o barulho estridente de aço gritante e cintilante.O dragão caminha preguiçosamente até a entrada da gruta e testemunha mais uma vez o esporte preferido do humano : O assassinato, com direito a muito sangue, que faz o deleite da morte aumentar o brilho em seus olhos quando o aço ainda frio esquenta dentro da carne viva de um de seus irmãos.
 Nada que perturbe a paz de uma criatura que já testemunhara centenas de outras guerras, e matara dezenas desses seres frágeis.
 Todos os outros seres eram mais frágeis que o grande dragão. Exceto um certo cordeiro, que dormia tranquilamente, ignorando a loucura do lado de fora.O dragão respeitava a ferocidade do cordeiro. A ferocidade da coragem que o habitava, para uni-los.
 A noite chama pela manhã e anuncia seu fim, junto com a batalha, que manchara as belas planícies com sangue e ferro.
 Nada que incomodasse a majestosa fera.
 Quase nada aliás.
 O cordeiro fraquejava seu caminhar, e seu pêlo tinha sangue e uma substância preta, como um desenho furioso em um tela.
 Ele ia morrer intoxicado com a presença do dragão, e a majestosa fera entendeu isso.
 Um pequeno remorso começou a apagar o fogo de dentro pra fora, até que se lembrou.
 Se lembrou dos ovos no topo da montanha em que estavam vivendo.Ovos no qual seu conteúdo pastoso era um remédio para qualquer enfermidade.
 Certificou-se que o cordeiro estava com comendo bem, e voou rumo ao topo da montanha.
 Lá encontrou acampamentos de guerra, e pessoas em volta de seus ovos.
Não houve medo,receio, ou rancor; queimou os soldados e as tendas que lá estavam com seu fogo que carregava no peito.O mesmo fogo que aquecia o cordeiro de noite. Olhou e ouviu a morte se apossando do lugar e deleitou-se com seu poder sobre a vida. Sentiu a delícia da guerra.
 Após o massacre, pegou os ovos e desceu em direção à caverna.
Avistou alguns humanos teimosos que acamparam em sua caverna.Sentiu repugno ao ver as tais criaturas comendo em volta da fogueira.
 O repugno se misturou com o crescente ódio ao ver ossos e uma lã tingida de preto e vermelho ao lado da fogueira. As bocas humanas sujas de carne qualificaram o maior crime já visto pelo dragão.Os olhos de desespero foram a última reação de vida dentro daquela caverna.
 O dragão sentiu-se como se houvesse gasto o sopro quente de sua vida. Olhou para a batalha que recomeçara. Desejou matar todos aqueles vermes dentro das armaduras.
 Mas só deitou-se e dormiu para sempre.
Quem pode entender a guerra ?



sábado, 29 de março de 2014

Tempo é relativo.

"Se estiver lendo isso de um passado distante, fuja do futuro.
 Uma gota de óleo consegue contaminar centenas de litros de água, mas nós fizemos melhor que isso, despejamos o tonel inteiro.
 Um inseto parasita, chamado ganância se hospedou na coluna da humanidade.
 E a natureza se mostra implacável ao homem que tenta dominá-la.

 Se estiver lendo isso de uma passado distante, seja cuidadoso.
 Tornamos o mundo inabitável e violento.A culpa é toda minha, minha porque nada faço.
 Queria poder dizer mais, mas existe um muro que se dobra á minha volta e me sufoca.
 São só mudanças naturais no curso do fim da vida.

  Se estiver lendo isso de uma passado distante,não tenha medo.
  Se projete à frente dos tigres, grite e lute com todo o calor que puder tirar do seu sangue.
  Depois se arrume asseadamente e vá trabalhar,
  Porque você também precisa comer.

  Se estiver lendo isso de uma passado distante, pare agora.
  Aproveite as pessoas que ainda sorriem,a comida que é boa,a bebida abundante.
  Pare de contar seu dinheiro
  E vá contar estrelas."
 

domingo, 23 de março de 2014

Neologia.

"A guerra, a fome,a dor,o desespero,o choro,o sangue,o dinheiro,os risos,os grunhidos,os pecados,o ouro,a violência,a praga,as armas,as bandeiras,o sol,a corrupção,os protestos,o torneio,a comida,os livros,o fogo,o exagero,a verdade,a mentira,os santos,os heróis,as espadas,o apocalipse...
  ...E o deserto. Areia,sangue;destroços de máquinas,cidades e pessoas. A sensação revigorante de estar vivo é engolido pela incerteza fugaz do agora. Então eu caminho, rumo ao nada.
  Várias dunas de areia qualificam a paisagem maçante desse imenso lugar nenhum e o sol é o único companheiro,na condição de estar sempre calado.
  O calor causa insolações e reflexões acerca da vaga memória que vai se iluminando com a caminhada, trazendo cada rosto e lembrança que passa diante aos olhos provoca sensação de gotas de chuva, e faz com que minha mente se isole do deserto à minha volta.Tudo passa muito rápido.
  A jornada não leva a lugar algum,e meu corpo interpreta essa busca infrutífera com desânimo, dando sinais de clara desistência.Encontro um escombro do que já foi um prédio e me refugio em sua sombra.
  Fome,nostalgia e mais um pouco de esperança que ficando podre junto com os resto da antiga civilização,e podre também fica o coração.É triste sentir quando nele há apenas sangue.
  A noite no deserto é gélida,então caminho para não o calor me manter de pé. A lua e as estrelas me surpreendem, pois nunca as vi em meio a tantas explosões, além do medo de não olhar somente para frente.
  O sol retorna para marcar minhas vagações e iniciar outro dia.
 "A artilharia defensiva estava posicionada e pronta para derrubar qualquer coisa viva ali perto,mas ainda sim os soldados tremiam de tanto medo, e em seus olhos estavam divididos entre o horror e o dever para com a carnificina sem sentido, que vinha marchando do horizonte..."
  Encontrei próximo às ruínas de um veículo alguma coisa que pudesse ser comestível, e adiei meu sofrimento fatal, não importando por quanto tempo,pois este já havia sido consumido junto com a guerra...
 ...Ou talvez tenha me engando, pois o tempo me rastreara nesse inóspito mar de areia e infectava meu ego com a necessidade.
 Quanto mais a mente aprendia com o vazio, mais o corpo padecia com a insistente fome e as trocas bruscas de temperatura.
  Em um ponto adiante fui alcançado por uma tempestade de neve, por acaso podendo encontrar um sobretudo em um corpo ex-humano que estava estirado ao chão.
  Os ventos fortes e o medo do que estava á frente me empurravam de volta à parte quente, mas não havia volta ao tempo gasto atrás.
  Chegada em uma montanha coberta de neve, e à frente estava uma magnifica aurora boreal que fazia mais que dançar sobre minha cabeça, ela se comunicava em silêncio com minha mente e começara a remover toda a angústia,medo,dor,fome,ansiedade que eu havia passado no caminho atrás, e como em um pedido terno, removeu minha vida junto."

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Vazio Adormecido.

 "Sucessivas colheitas, rostos rosados e suados de tanto trabalho no campo.
 Verde infinito,cresce do chão, das árvores, e dos bancos.
 Farturas acentuadas e celebração ,cheia de vinho, à felicidade.
 A esperança foi usada como apoio ao pé desigual da mesa.
 A fé em tempos melhores foi alcançada, brindes ao êxtase insaciável
 Da boa vida.

 Mais um dia nublado,mais um dia de trabalho.
 O tolo do tempo que fale à toa, a alegria está impecável.
 A terceira safra consecutiva está pronta.
 Aonde Deus se esconde ?
 Ele podia ver o homem sendo feliz.

 Fim do dia, carros cheios e hora de apreciar o trabalho feito.
 A terra começa a tremer e o chão se abre.
 O inferno está a caminho.

 Uma imensa cobra se ergue do chão,
 De forma tão dramática quanto
 Apocalíptica.
 Sua locomoção destrói as plantações e a coisa constringe a casa do fazendeiro
 Como se fosse a presa de uma cobra normal.

 "Dá-me o que comer", disse a besta.
  O fazendeiro não sabia o que ela comia e se dirigiu humilde a perguntar.
  Em resposta, a cobra enfiou a cabeça dentro da casa e engoliu uma de suas três filhas.
 O homem ficou chocado,mas manteve-se calmo.
 A cobra despejou seus dejetos, que logo o fazendeiro reconheceu como puríssimo adubo.

Cada dia o homem assassinava um de seus semelhantes e levava a oferenda à cobra,
 Buscando poupar sua família,
 Mas principalmente obter o poderosíssimo fertilizante
 Que lhe fazia lucrar mais que os outros fazendeiros.

 Um dia acabaram-se as pessoas a quem matar.
 Então o fazendeiro ofereceu sua mulher.
 E se lamentou.
 Depois ofereceu sua duas filhas,
 Mas estava insano e voraz por dinheiro
 E não se lamentou.

 Chegou o dia em que havia apenas ele e a cobra.
 Se não poderia mais obter dinheiro
 Preferiu se entregar.
 A cobra ergueu a parte superior de seu corpo,
 Como num bote fatal.
 Desprendeu-se da casa e foi embora,
 Deixando o fazendeiro confuso e desolado.

 Quando olhou para a última pilha de dejetos
 Viu encrustada a cabeça de sua última filha."






sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

La Jornada Del Muerto.

" Domingo seria dia de oração devota na igreja, se ela não estivesse habitada por espíritos que caminham sem os pés.Não é somente a igreja; todas nossas ruas, praças, prédios viraram rota do caminho dos mortos.
  São a energia dos que já foram vivos, e com seus crânios firmes como sua identificação.
  Uma pessoa desorientada caminha apavorada pelas ruas aparentemente vazias, e sente que não está só, e em grupo aparecem los muertos  para fazer seu trabalho perturbador. Se conectam à vítima com cordões esfumaçados que saem de qualquer parte do corpo intangível e transpassam os órgãos, sugando toda a vitalidade.Uns oito ou nove de uma vez,como tubarões ao sentir algo na água; drenam a vítima e depois removem seu crânio puro e limpo.Uma energia negra se levanta do recipiente caído e o crânio é cuidadosamente encaixado no topo do corpo que se formava. Está pronto mais um muerto, pronto para desalmar qualquer um que já foi seu semelhante.
   E o corpo ? O corpo se putrefaz mais rápido do que o habitual, e o cheiro atrai los cazadores. São seres bípedes tremem incontrolavelmente e não cerram a mandíbula, além de ter olhares fixos e desesperados.Engolem os corpos de um só fôlego e voracidade tamanha que faz o ácido de sua boca escorrer e fazer furos no chão.Viram-se e vão embora. Finalmente posso respirar.
   Vejo cenas como esta todos os longos dias de minha janela.Aliás,da fresta que existe nela. Minha casa é um verdadeiro refúgio,cheio de mantimentos ,e especialmente escura e fria.Se los muertos procuram energia, não vão encontrar aqui.
   Saio pela cidade durante à noite, ao que percebi que as criaturas não são hostis nesse período,a não ser que sejam tocadas, nem encaradas.Tolo quem o fizer qualquer hora do dia.
   Sol da manhã.Só o descobri pela fresta que abri no telhado, iluminando uma área pequena e isolada da casa.Acendo poucas velas e faço algo para comer.Me sento e espero.Algumas vezes leio um livro que encontrei ou organizo a casa.Solidão ataca e se mistura com gritos de dor desespero que vêm da rua, e logo depois os gemidos e ruídos das bestas famigeradas fazendo suas refeições de pessoas.
  Tédio após tédio,as sensações vão se diluindo em doses suaves de loucura desordem.Gritos de mortes, espíritos que observam e carne sendo derretida.Então lembrei de uma data que eu devia comemorar pelo meu sucumbido povo : O Dia dos Mortos.
   Decorei a casa com velas a mais, espalhei caveiras e abóboras por toda a casa e toquei algumas músicas na guitarra.
   Choro agoniado e medo que infectava rápido meu corpo. Solidão começara a mastigar minha pobre existência.Então a coragem corrompeu a loucura.Tomo a faca mais próxima, abro devagar a porta da casa e espero.Não há sinal,pois está de noite, mas encontro um muerto vagando próximo,e sem pestanejar o crânio oco se vira em minha direção e flutua devagar.
   Suor banha minha cama, e estou pálido e com excessivo frio.Vi os olhos que carregam o apocalipse, vítima pós vítima.Vejo seus rostos implorando ajuda.Olhos vazios, mas cheios.
  Minha coragem falhou drasticamente assim como meus instintos.
  Casa cercada de criaturas abomináveis, descobriram meu refúgio.Hora de partir na jornada da morte, ou será que eu fui o único morto e enterrado nesta cidade ? Viver com medo não vem do instinto de sobrevivência.
  As paredes começam a ceder, quando vejo algo vindo diretamente do céu.
Círculo da morte é sua própria jornada."
 

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O Lobo e o Anjo.

  Perfeito.
Como uma sociedade deve ser,perfeita.
Não há guerra,não há crime,não há dor.
Vivemos afastados de todo o mundo ganancioso,corrupto e egoísta.
Mortes naturais,doenças controladas e vida saudável e longa.
Tudo devido a nosso grande monarca, Rei Thomas.
O respeitamos como se fosse Deus
E tememos como se fosse o Demônio.
  Allan,este é meu nome.
  Minha função é cavar túmulos para abrigar os corpos das pessoas que morrem,
Essa é uma tradição popular nossa.
Sou coveiro.
Gosto de minha profissão, é calma e silenciosa, até demais às vezes, admito.
Moro na rua através do cemitério em que trabalho,torna-se cômodo para ir ao trabalho.
Nove e meia, hora de continuar meu serviço.
   Três horas seguidas abrindo valas, fazendo rondas e olhando estátuas de anjos.
Parei apenas porque uma delas decidiu falar comigo.
Apenas a cabeça de mármore virou-se para falar,com olhos mortos que piscavam
E lábios vazios que se mexiam.
Disse-me : "A terra está corrompidas aos olhos de Deus,e cheia de violência."
Virou-se e voltou a ser estátua.
Continuei naturalmente meu trabalho,
Mas a cena repetia-se periodicamente em minha cabeça e me fazia suar e perder concentração.
Olhos para um lado,para o outro.Inquieto.
   Meia-noite, avisa o relógio da capital. Minha noite está longe de acabar,e as memórias começam a se sentirem acudas pela nova e incômoda.
De repente surge um lobo das altas moitas entre as sepulturas.
Encara e anda devagar,majestoso.Estava pronto para avançar,
Mas sua boca não rosnou,
Falou.
"Sentiste medo ?", perguntou.
Afirmei com a cabeça, mas o resto do corpo paralisado.
"Então estás vivo." Concluiu.
Ligeiro,voraz e desumano como poderia ser, arrancou em uma mordida meu braço esquerdo.
Não pude gritar.Nem quis.
Sangrei,sangrei e meu sangue escorria de seus dentes pontudos e estava em sua língua ,quando tornou a falar :
"Sei que está vivo,então. Amanhã volto para ver se acordou." E retornou por onde veio.
Desmaiei.
   No hospital todos passavam, inexpressivos.
Me dei conta que meu rosto se contorceu bastante durante ontem à noite.
O médico disse que se chama sensação, provocada pela dor
Ou pelo medo.
Disse para ficar em casa alguns dias, enquanto meu braço postiço se habituasse ao organismo.
Era uma prótese orgânica em esqueleto de aço.
   Fui para casa,e lá fiquei olhando fixo para a janela que dava para o outro lado da rua.
Onze horas e fiquei esperando no mesmo lugar.
O sangue ainda estava lá,afinal eu que devia tê-lo limpado.
Estranho não cumprir uma tarefa, todos em país faziam seus trabalhos assiduamente e sem erros,
Acho que fui o primeiro a burlar.
Essa deve ser a sensação de indiferença.
  O lobo vem através da mata, com seus dentes limpos,mas com sangue ainda na língua.
"Se você não acordar, então não necessitará de um coração."
Após a última frase comprimiu o tórax e se preparou para beber meu sangue.
O medo me cobriu com seu véu negro e sussurrou morte nos meus ouvidos.
O lobo veio voraz novamente.
Então freou,quando a estátua do anjo atrás de mim ordenou. Então todas se viraram e repetiram em coro :
"Fora, a espada levará seus filhos e, dentro, o terror se instalará. Todos perecerão: o jovem e a donzela, a criança de peito e o velho de cabelos brancos."
Todas se quebraram e revelaram espadas no interior.
Estiquei minha mão sem olhar para trás e saquei a espada que dava estrutura ao anjo de mármore.
O lobo avançou como se não comesse há dias.
E saltou.
Num momento,num flash, e no meio giro de meu braço armado, arranquei fora sua cabeça.
O sangue manchou todo o gramado.
Ofeguei e então entendi.
Acordei.
Tirei a parte orgânica do meu braço e deixei a estrutura metálica que mais parecia uma garra.
Meus lábios se arquejaram pela satisfação do meu corpo.
Chama-se sorriso.
Andei para fora do cemitério e comecei a enterrar a minha espada no peito de todos que eu via.
Ninguém reagiu, não estavam acostumados com assassinato; tampouco desviavam o caminho de medo.
Era tão natural.
E assim progredi até o centro,
Quanto mais sangue derramava mais me sentia...
Imperfeito.




sábado, 25 de janeiro de 2014

A Casa - Capítulo I

"Alice era jovem desolada que batia à minha porta.O rostinho seco e perdido dizia tudo.Ela queria um lugar para ficar.E ficará.
Levei-a para a sala e ofereci chá e esse bolo que estava na dispensa.
Contou-me toda sua vida amorosa e lua-de-mel fracassada.Fingi estar atento,mas estava concentrado na bolsa dela e o que havia lá dentro.Segredos de mulher vão além.
Ela chorou um pouco e pediu desculpas.Previsível,tanto quanto que ia ficar receosa por dormir em uma casa tão velha até o outro dia.
Carro atolado.Desespero.
Fui limpar pratos e xícaras e me desculpei por não haver algo para passar o tempo.
Quase deixei o bisturi a a agulha cair do bolso do robe.
Me juntei a ela,que se convenceu de ficar.
Seu rosto quase ficara mais lívido até ouvir gemidos e barulho do assoalho de madeira.
Tensão.
Porta do porão se abre e um jovem e sujo rapaz sai de lá,para completar nossa reunião.
Medo começa a sussurra no ouvido da moça e o rapaz olha confuso e assustado.
Mas as portas já estão trancadas,
E a agulha cheia de líquido transparente."

A Casa - Epílogo.

"Silencioso demais.
Morto,cheio de pó e pronto para receber mais deles.Eles virão,estou certo.Sinto em meu sangue velho.
Meu piano está precisando de sua manutenção,minha chaminé suja e devia eu ter outro jardim.
Que não sejam preguiçosos,nem ativos demais.
  O sótão...Sim,ele vai ficar feliz em receber carne nova,já há bastante tempo desde a última vez.Devo tentar arrumá-lo se minha saúde permitir.Envelhecer é difícil,ao mais que sozinho.
  Hora de ligar meu fiel companheiro.Mosca na lâmpada.
  Poeira sobe,tusso bastante.Vou precisar de remédios.Há alguns em minha biblioteca.
Me lembrei que a cerca também está em estado péssimo estado,desnivelada.Há muito o que fazer.
Por falar nisso,barulhos na cerca lá fora.
Parece que o primeiro chegou.
Homem.Cabelos longos,magro.
Porão.
Estou cansado,mas ele não pode me ajudar está desacordado..
Barulhos na porta da frente.Alguém quer atenção.
O segundo chegou.
Ah,uma dama.
Começamos aqui."

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Em algum lugar na escuridão.

Dois dedos de uma bebida quente
Para descer a amargura da rotina,
E ser engolido pelas trevas da madrugada
De repente.

Ruas sem esperanças nem iluminação
Caminho vagaroso e pesado
Turvo piche que infecciona o sapato
E o coração.

Situações corriqueiras que vão devorar dinheiro,
Absorver almas jovens e sobreviver 
Nas vértebra de uma sociedade autodestrutiva, 
Que se organiza entra e filas e empilha papeis com ordens.

Correto e justo demais para ser verdade 
Sem liberdade aparente,portão que se abre só
Casa abandonadas que resmungam vozes antigas,
E seus quadros que observam.

Ponto branco que devia trazer luz à canoa
Está tão lânguida que mal se move,
Doente,mas com radiação própria
Rainha de folhas como coroa.

Vestido branco e enlameado em sua bainha
Monarca que não defende soldados
Nem exige joias cristalizadas
Só as folhas que te tornam rainha.



sábado, 11 de janeiro de 2014

Os Sonhos.

"São os fragmentos de miséria existencial,são os cacos de sofrimento ou as ruínas da mente partida que são sugados pelo Esquecimento ou esmagados pela rotina.
 Nada é suficiente.
 Ciclo miserável que nos cria para morrer e faz todos suportarem o inferno sozinhos,mesmo quando a saída está do lado.
 Saída é a primeira tentação e fugir o primeiro pecado.
 Pecado não é erro.
 Quieto,escuro e voraz.Seu pesadelo tem dentes e garras.Cuide bem dele, é cria sua.
 Alimente-o ao menos uma vez ao mês e não se assuste, porque só irá restar seu medo.
 Medo sufocante viscoso.
 Manhã que vem cavalgando do oeste com a biga de Apolo.Legião do alívio são os raios de sol.
 Escuridão volta para baixo da cama e espreita até a noite com seus olhos abertos.
 Nossa conexão é forte e não me deixa fugir para o esquecimento.
 Brisa da manhã lava minha alma e o sol olha por mim.
 Olhos abertos.
 Calor suave emana dos raios da tarde e beija minha pele.Calma é minha Rainha e silêncio meu Rei.
 Pôr-do-sol.
 Devagar, constante e de um escarlate vivo,cor de sangue, o mesmo sangue que vejo em meus sonhos todas as noites.
 Escuridão rasteja para fora da cama.
 Hora de dormir."