sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Vazio Adormecido.

 "Sucessivas colheitas, rostos rosados e suados de tanto trabalho no campo.
 Verde infinito,cresce do chão, das árvores, e dos bancos.
 Farturas acentuadas e celebração ,cheia de vinho, à felicidade.
 A esperança foi usada como apoio ao pé desigual da mesa.
 A fé em tempos melhores foi alcançada, brindes ao êxtase insaciável
 Da boa vida.

 Mais um dia nublado,mais um dia de trabalho.
 O tolo do tempo que fale à toa, a alegria está impecável.
 A terceira safra consecutiva está pronta.
 Aonde Deus se esconde ?
 Ele podia ver o homem sendo feliz.

 Fim do dia, carros cheios e hora de apreciar o trabalho feito.
 A terra começa a tremer e o chão se abre.
 O inferno está a caminho.

 Uma imensa cobra se ergue do chão,
 De forma tão dramática quanto
 Apocalíptica.
 Sua locomoção destrói as plantações e a coisa constringe a casa do fazendeiro
 Como se fosse a presa de uma cobra normal.

 "Dá-me o que comer", disse a besta.
  O fazendeiro não sabia o que ela comia e se dirigiu humilde a perguntar.
  Em resposta, a cobra enfiou a cabeça dentro da casa e engoliu uma de suas três filhas.
 O homem ficou chocado,mas manteve-se calmo.
 A cobra despejou seus dejetos, que logo o fazendeiro reconheceu como puríssimo adubo.

Cada dia o homem assassinava um de seus semelhantes e levava a oferenda à cobra,
 Buscando poupar sua família,
 Mas principalmente obter o poderosíssimo fertilizante
 Que lhe fazia lucrar mais que os outros fazendeiros.

 Um dia acabaram-se as pessoas a quem matar.
 Então o fazendeiro ofereceu sua mulher.
 E se lamentou.
 Depois ofereceu sua duas filhas,
 Mas estava insano e voraz por dinheiro
 E não se lamentou.

 Chegou o dia em que havia apenas ele e a cobra.
 Se não poderia mais obter dinheiro
 Preferiu se entregar.
 A cobra ergueu a parte superior de seu corpo,
 Como num bote fatal.
 Desprendeu-se da casa e foi embora,
 Deixando o fazendeiro confuso e desolado.

 Quando olhou para a última pilha de dejetos
 Viu encrustada a cabeça de sua última filha."






sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

La Jornada Del Muerto.

" Domingo seria dia de oração devota na igreja, se ela não estivesse habitada por espíritos que caminham sem os pés.Não é somente a igreja; todas nossas ruas, praças, prédios viraram rota do caminho dos mortos.
  São a energia dos que já foram vivos, e com seus crânios firmes como sua identificação.
  Uma pessoa desorientada caminha apavorada pelas ruas aparentemente vazias, e sente que não está só, e em grupo aparecem los muertos  para fazer seu trabalho perturbador. Se conectam à vítima com cordões esfumaçados que saem de qualquer parte do corpo intangível e transpassam os órgãos, sugando toda a vitalidade.Uns oito ou nove de uma vez,como tubarões ao sentir algo na água; drenam a vítima e depois removem seu crânio puro e limpo.Uma energia negra se levanta do recipiente caído e o crânio é cuidadosamente encaixado no topo do corpo que se formava. Está pronto mais um muerto, pronto para desalmar qualquer um que já foi seu semelhante.
   E o corpo ? O corpo se putrefaz mais rápido do que o habitual, e o cheiro atrai los cazadores. São seres bípedes tremem incontrolavelmente e não cerram a mandíbula, além de ter olhares fixos e desesperados.Engolem os corpos de um só fôlego e voracidade tamanha que faz o ácido de sua boca escorrer e fazer furos no chão.Viram-se e vão embora. Finalmente posso respirar.
   Vejo cenas como esta todos os longos dias de minha janela.Aliás,da fresta que existe nela. Minha casa é um verdadeiro refúgio,cheio de mantimentos ,e especialmente escura e fria.Se los muertos procuram energia, não vão encontrar aqui.
   Saio pela cidade durante à noite, ao que percebi que as criaturas não são hostis nesse período,a não ser que sejam tocadas, nem encaradas.Tolo quem o fizer qualquer hora do dia.
   Sol da manhã.Só o descobri pela fresta que abri no telhado, iluminando uma área pequena e isolada da casa.Acendo poucas velas e faço algo para comer.Me sento e espero.Algumas vezes leio um livro que encontrei ou organizo a casa.Solidão ataca e se mistura com gritos de dor desespero que vêm da rua, e logo depois os gemidos e ruídos das bestas famigeradas fazendo suas refeições de pessoas.
  Tédio após tédio,as sensações vão se diluindo em doses suaves de loucura desordem.Gritos de mortes, espíritos que observam e carne sendo derretida.Então lembrei de uma data que eu devia comemorar pelo meu sucumbido povo : O Dia dos Mortos.
   Decorei a casa com velas a mais, espalhei caveiras e abóboras por toda a casa e toquei algumas músicas na guitarra.
   Choro agoniado e medo que infectava rápido meu corpo. Solidão começara a mastigar minha pobre existência.Então a coragem corrompeu a loucura.Tomo a faca mais próxima, abro devagar a porta da casa e espero.Não há sinal,pois está de noite, mas encontro um muerto vagando próximo,e sem pestanejar o crânio oco se vira em minha direção e flutua devagar.
   Suor banha minha cama, e estou pálido e com excessivo frio.Vi os olhos que carregam o apocalipse, vítima pós vítima.Vejo seus rostos implorando ajuda.Olhos vazios, mas cheios.
  Minha coragem falhou drasticamente assim como meus instintos.
  Casa cercada de criaturas abomináveis, descobriram meu refúgio.Hora de partir na jornada da morte, ou será que eu fui o único morto e enterrado nesta cidade ? Viver com medo não vem do instinto de sobrevivência.
  As paredes começam a ceder, quando vejo algo vindo diretamente do céu.
Círculo da morte é sua própria jornada."