segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A Colmeia - Parte I

Mel e metal.

"Todos amam e saúdam a mamãe.
 Embora só as machina sejam fruto direto dela; e esta nunca tenha pedido ou nos obrigado a se curvar diante da magnificência da Queen Bee, o fazemos com total voluntariedade e prazer. Ela não parece gostar, mas o fazemos mesmo assim.
Acho que nossa grandiosa líder esconde algo embaixo do vestido, que só pode ser visto por quem se ajoelha."

Isaac.

"As ruas da colmeia levam a vários lugares. Lugares de trabalho; como escritórios, construtoras, lojas ou alguma fábrica da LUM. As machina são todas feitas na LUM e suas imensas montadoras.
Curiosos seres, essas machina. São androides arranjados em três padrões : Operários ( Trabalham na obtenção do Mel ), Zangões ( Mantêm a ordem e policiam ) e Verdugos ( Guarda pessoal da Rainha; só podem haver três em atividade ).
  Isaac vaga preguiçosamente pelas ruas semi-vazias da colmeia, em direção ao grande poço de Mel. Não mel comum, mas o nome de substância viscosa e alaranjada que é utilizada como fonte de energia para a colmeia; embora nunca é vista uma gota de Mel fora do poço ou dos veículos de transporte.
 O barulho das operárias forma uma estranha sinfonia aparentemente caótica, mas complementar ao progresso do trabalho.
  E o trabalho não para. Nunca.
Há diversas apresentações musicais, teatrais, cinemas ao ar livre e em salas, banquetes, jogos esportivos e festas acontecendo neste exato momento, tudo sempre gratuito e convidativo. As pessoas de carne e osso trabalham em afazeres voltados às próprias pessoas; como aprendizados. Cozinheiros, alfaiates, músicos, atores, atletas, escritores, professores...Seria decadente supor que as pessoas parasitam o trabalho árduo e incessante das machina, mas , curiosamente; quando a vida útil de um desses androides está a acabar, eles são enviados para qualquer atividade das pessoas.
Assistem imóveis, aplaudem e se retiram; para serem desmontados. Talvez uma última diversão antes...de morrer.
  Isaac fazia o oposto. Era um pontinho carnal, observando o movimento coordenado das operárias; enquanto era observado pelos Zangões. Essa força vigilante dos zangões, chegava a ser misteriosa e incômoda, pois ficava em pontos estratégicos; sempre observando o humano mais próximo, fixamente. Quando o humano saía do campo de visão do Zangão,este voltava a cabeça para frente em um movimento elástico, totalmente mecânico. Seus capacetes eram ornados com quatro vãos emitindo luz amarela, como fossem os olhos.
Estáticos, atentos...E algo mais intrínseco à sua natureza caracterizavam os Zangões.
Eram os únicos que realmente perturbavam Isaac em suas observações diárias; como se o rapaz tivesse ideia do que eles faziam, embora nunca os tivesse visto.
Machina e humanidade; se cruzando diariamente num frenesi perfeito e bem ajustado pelas mãos da Queen Bee.
Em uma manhã mais fria e nublada que o normal; Issac esbarra em um senhor, que ao lhe pedir desculpas, lhe oferece um convite : Ir à exposição de mais novas descobertas arqueológicas por ele promovidas. Seu nome era Raymond H. Tylor.
Isaac olhou para a quadra central, do poço e olhou de volta para o sorriso inocente e simpático do professor Raymond.
Seguiram ambos ao museu, enquanto o prof. Raymond explica seu trabalho fervorosamente ao jovem Isaac.

  As Vespas eram uma sociedade minúscula, que se instalava às bordas dos portões da Colmeia. Não possuíam contato com machina, e levavam uma vida pouco saudável, além de ser voltada para a matança de todos que viviam dentro da colmeia. Homens, mulheres e crianças vespas usavam máscaras com um par de lentes de aumento que se ajustavam apenas com o pensamento. Eram facilmente abatidos pelos Zangões, que faziam turnos de varredura em volta dos portões; obrigando toda e qualquer vespa a se esconder. Lendas são contadas dentro da colmeia em torno deste misterioso povo, que viram até películas, música, histórias...

  Quando Isaac adentra o museu, sente um leve calafrio e olha para trás. Desconfiado, se volta para a frente.
  As esticadas lentes da máscara metálica, dourada e maltratada de uma vespa contraem devagar quando em seu reflexo mostram Issac e prof. Raymond entrando e fechando a porta.
A vespa se vira e vai embora."

Continua...

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