domingo, 16 de agosto de 2015

A Colmeia - Final

Chuva de Malaquita.

"Quando cessarem os risos
 As pernas tremerão;
 O mundo será puro outra vez,
 Mas as Vespas ficarão." - Juramento de passagem das Vespas.

"Aurora chorava e sentia seus joelhos falharem.
  Queen Bee não possuía a mínima expressão. Pudera; também, afinal era uma machina.
   Não existia apenas uma Queen Bee. Esta era um androide funcionário como qualquer outro, mas usado por unidades individuais. As próprias machina se recriavam e estabeleciam uma autocracia silenciosa e violenta. Porém a real mão que move os cordões está a aparecer.
  A luta de lança contra ferrão se desenvolvia ao fim da tarde; enquanto a Colmeia se retira para suas casas para tomar banho, jantar algo quente e dormir em aconchego visto que a tempestade está vindo; Queen Bee e Aurora valsam perigosamente num desfiladeiro mortal. Por dentro da máscara, a última Vespa daquela Colmeia sua e seu rosto treme sentindo a morte caminhar a passos largos em sua direção. A Abelha Rainha não pisca, move um lábio ou músculo da face sequer. É uma perfeita boneca ; produzida para não ceder perdão a ninguém. A lança branca da Rainha machina passa a milímetros de Aurora, e esta aproveita para enterrar seu ferrão na garganta da adversária. O alaranjado Mel escorre e suaviza o perturbador rangido metálico do dilacerado pescoço robótico; derrama como fosse um mais requintado e nobre sangue e cobre o vestido listrado de branco e amarelo da Rainha. Uma rajada de vento frio alerta Aurora sobre a tempestade e esta corre desesperadamente para um canto do circular muro branco da colmeia; e habilmente o escala, nas partes que possuem rachaduras e sulcos que auxiliam sua subida. No topo do muro olha para a cidade e a vê esvaziando com a primeira hora da noite. Uma distante fábrica parece ter iniciado as atividades, quando todas estão já paradas. Uma nova Queen Bee está sendo produzida; e isto proporciona um hiato de tempo para que Aurora comece a correr desesperadamente e aos prantos , para o gabinete da Rainha, no centro.

  Professor Tylor chega em sua casa; sujo, malcheiroso e encharcado de suor e medo. Reflete sobre o turbilhão de fatos dos últimos dois dias e sente uma fraqueza tomar conta de seu corpo. Sente-se sozinho e desesperado, e vai à janela tomar ar. Vê uma sombra pular pelos telhados das casas, e num misto de espanto e alegria; corre para a porta, magnetizado pela figura sombria, mas quando toca na maçaneta ouve pingos de chuva atingirem a rua. Uma estranha chuva verde começa a cair na Colmeia.

  Aurora corre rápida e agilmente pelos cantos remotos da cidadela visando o contro, quando ouve um relâmpago e um lampejo sai das nuvens de tempestade e acerta o mar, a uns quinhentos metros do muro da Colmeia. Uma fina chuva verde começa a cair, e Aurora se lembra imediatamente do ditado de sua mãe : "Quando começar a tempestade esverdeada, melhor estar mascarada." Pôs a máscara em rosto e sentia os suaves pingos acertando o desgastado metal.
 Só a jovem Vespa sabia o que iria acontecer agora, mas mesmo assim, correu em direção a torre do gabinete.

  A chuva de malaquita esfumaçava quando acertava a água do mar. Da borda da praia ao lado da Colmeia, algo começava a emergir. Uma abominável figura de tamanho e proporções indescritíveis irrompe da água. Sua pele era um misto de marrom e verde, feita de material que parecia tanto orgânico quanto rochoso. Possuía doze braços, seis de cada lado; e de cada um desses, um ferrão semelhante ao das Vespas, porém saídos das costas da mão. Sua cabeça era semelhante a de uma formiga pote-de-mel do deserto, porém possuía um espécie de barbatana que saía pela cabeça e descia até metade das costas. Esta besta era a encarnação de todo o desespero que existia, e as Vespas, desde a antiguidade o chamavam de Snasitir'Bh. A imensa besta proferia sons que se pareciam com uma linguagem; porém impronunciável às bocas humanas. Em poucos passos estava na borda da Colmeia. Seu corpo abrira milhares de poros e deles saíam imensas formigas pote-de-mel, marchando para dentro da cidade. Os moradores da Colmeia enlouqueceram com a insana imagem, e desesperadamente corriam em círculos, buscando abrigos ou dispersando seu desespero. Os que iam ao portão eram rapidamente empalados pelas lanças dos Zangões, que estavam a tapar qualquer possível saída. As formigas atacavam qualquer pessoa; e depois de matar, enterravam uma espécie de ferrão abdominal e drenavam o que seria o sangue, mas por alguma reação substancial com o ferrão, o sangue tornava-se o combustível Mel.
  Os trovões caíam violentamente, as formigas chacinavam todos e a demoníaca e imensa criatura proferia palavras perturbadoras em uma língua desconhecida, com as mãos agarradas aos altos muros.

  Aurora apenas ouvia o horror desencadeando-se pela Colmeia : Os gritos histéricos, os apavorantes chiados das formigas e aquela língua perturbadora. A Vespa, entretanto, juntou coragem para superar o desgaste físico e o medo e continuar subindo as escadas da torre. Na porta do gabinete, ouviu um curioso som de música melancólica, e devagar abriu a porta. Um androide operário tocava um clássico instrumental ao piano e parecia ignorar a catástrofe subsequente. Aurora aproximava-se devagar e sorrateiramente da machina , quando sentiu uma forte dor no peito. Quando, tremendo, olhou para baixo, viu sangue escorrendo pela roupa e um pontiagudo cristal atravessando seu coração. O corpo da jovem Vespa desabou na poça de sangue, e por trás estava a nova Queen Bee, com um ferrão semelhante ao das Vespas, porém feito de um cristal azul. O sangue de Aurora espirrou em seu rosto inexpressivo.
  Queen Bee e o androide pianista dirigiram-se para a outra porta do gabinete.
  No terraço da torre, Os dois androides olhavam fixamente para a ciclópica criatura, que quando avistou o par, parou de proferir a linguagem estranha. Mais dois machina operários trouxeram para o terraço o piano do gabinete, e o robô pianista voltou a tocar. Uma sonata fria e angustiada se mistura à carregada atmosfera que estava pela colmeia. Os corpos ficaram largados pelas ruas, e a chuva malaquita se misturava ao mel e sangue que se derramava ao lado dos corpos de homens, mulheres, crianças, velhos, jovens, sonhadores, músicos, cozinheiros,atores, atletas, pais, mães, filhos...As formigavas voltavam aos poros do imenso Snasitir'Bh, e quando a última entrou no corpo da besta, ela se dirigia ao horizonte do mar, para descansar novamente nas profundezas. Quando a criatura sumia da vista, todas as machina - Inclusive Queen Bee - Se dirigiam às fábricas de que saíam, de forma ordenada e organizada.

  No esgoto, Tylor e três Vespas corriam para se afastarem o mais possível da cidade, e durante a corrida, Tylor contemplava seu novo rosto : Uma novíssima máscara Vespa."

Não continua, mas não acaba por aqui.



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