sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Animatrônicos.

"Meu nome não importa, muito menos quem sou. Mas sou homem, tô' na meia idade...E apavorado.
 Estou dentro do quarto do pânico da minha casa. O que quer que esteja lá fora está tentando entrar aqui e me pegar. Estava atrás do meu filho também, mas ele encontrou abrigo nos exaustores da casa.
Um berro estridente e por uma das câmeras de segurança vejo sangue espirrar e depois escorrer pelo exaustor de um dos corredores. Pegaram meu filho, e fui muito covarde para tê-lo trazido aqui. Mas estou seguro; isso que importa. Posso começar vida nova, ter filhos novos, casa nova...Esquecer isso...
Por uma das câmeras de segurança vejo o pirata Sheldon esfregar sua cara de plástico carbonizado e ferro oxidado na porta do quarto do pânico.Ele para automaticamente, se vira e dá a volta no corredor.

As coisas fugiram ao controle...Eram simples bonecos animatrônicos de uma lanchonete antiga. O Max os amou à primeira vista...Ele dizia que...Sentia...Sentia uma ligação com os bichos. Essa ligação se rompeu quando essas coisas o destriparam.
Sheldon, o pirata; Tim, o palhaço e Jude...A coisa com mínimas feições femininas.

Os três diabos estão lá fora, procurando uma maneira de entrar.Eles mal me viram, mas sabem que estou aqui. Me sentem, mas não pelo medo; me sentem pelo instinto  de assassino.
Jude...Está olhando diretamente para a câmera da cozinha. Olhando para o vazio de uma câmera filmadora. As máquinas parecem conversar uma espécie de linguagem não verbal entre si; mas além disso, o sentido demoníaco que faz os animatrônicos andarem, faz Jude me ver sem ver. Faz os bonecos caminharem sem vida. Faz minha cabeça se lembrar que Deus me abandonou à minha sorte, contra o que quer que esteja fazendo esse palhaço insano ficar observando a cabeça mutilada de meu filho...
Sheldon achou a caixa de força da casa.
Sheldon mordeu os fios.
A luz da casa caiu, porém o quarto continuou aceso, e um aviso de noventa e nove por cento de bateria restante surgiu no ecrã do sistema de câmeras.
Noventa e nove por  cento de energia restante.
Quando chegar a zero, irei conhecer o inferno; escuro e frio.

Os barulhos de eletricidade são fortes através dos circuitos do gerador interno. Desligo a luz interna para administrar a energia restante afim de adiar o que está por vir.

Vinte e quatro por cento.
Tim e Jude vagam pela casa sem objetivo.Eles não se esgotam.Os interruptores dos bonecos devem ter o modo "matar".

Vinte por cento.
Não vejo Sheldon.
A câmera do Hall de visitas foi desligada.

Doze por cento.
Há um machado de incêndio.
Meu suor escorre pela testa e cria nodas na minha blusa.
É como uma visão de onde o sangue vai escorrer.

Cinco por cento.
Havia me preparado para lutar, quando a energia findasse.
Derrubei o machado quando olhei para a câmera do corredor.
Havia uma marca caótica, porém inteligível na parede, feita com sangue.
Um emblema que registrava algo nessa casa. Algo tomava conta desses bonecos.
E também do corpo do meu filho, que rastejava moribundo; sem sangue nem alma, apenas com o olhar vazio e fixo para a câmera de segurança.

Zero por cento.

..."


Todos os jornais passavam a mesma bizarra e instigante manchete : Pai é acusado de assassinar brutalmente o filho e culpa os bonecos animatrônicos.
O pai já fora diagnosticado por surtos psicóticos, e será levado a tribunal ainda esta semana.

A casa cercada pela polícia e a cena do crime manchada de sangue. O sistema elétrico da casa estava em ruínas, com sinais de golpes de machado pelas canaletas, fios e quadro elétrico.
Na prateleira do quarto do falecido garoto estavam seus bonecos animatrônicos.
Tim, o palhaço.
Jude, a coisa.
Na poltrona da sala estava Sheldon, o pirata.
O perito veio buscá-lo para análise, quando tropeçou em um palhaço.
Jude observava tudo do quarto do pânico."

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