segunda-feira, 8 de julho de 2013

Pós-Vida.

"Esse silêncio é quase provocante...Ouço que chama por meu nome.
 Minhas memórias estão fracamente vagas e sinto que os ares da mudança não sopram em harmonia.
 Este lugar é extenso e vazio; caminho discretamente pela campina congelada, andando em círculos retos.
 Só não sei como vim parar aqui.

 Já ficou à noite por aqui, e com isso, apareceram vultos disforme de meus pesadelos. O tormento não chega a enlouquecer de vez, e seja como for, sinto-o aos poucos...
 Fiz uma fogueira e sentei-me em um lugar qualquer que não consigo detalhar bem,pois o implacável manto   do escuro cobre minha visão à frente e aos lados, e de que adiantar dizer que enxergo, se estou fadado às  trevas ? Vou tentar dormir.

 Acordo com os olhos pesados de tanto sono mal dormido devido ao terreno duro em que me acomodei.   Parece que o dia amanhece sem sol por aqui, o que explicaria o frio e a luminosidade restrita.
 Ando mais um pouco e sinto terrível fome, e quase como em resposta vejo uma árvore,com uma só maçã. Pego-a e quando dou a primeira voraz mordida, expurgo com violento nojo a fruta de minha boca; deveras justo,estava cheio de vermes. Mas o paladar não se engana como os olhos,e o sabor dos vermes parasitas é tão delicioso quanto a fruta, e então apanho-na do chão, e de joelhos mesmo devoro o repugnante banquete ,como um animal.

 Mais alguns passos preguiçoso de caminhada e meus pensamento apertam-se em árdua luxúria. Me lembro de minha amada Vitória e pergunto os troncos das árvores o que acontecera com ela,ou sonhava que ela estava ali. E algo estava,mas não era ela. Era uma mulher grotescamente deformada, como a união fracassada de dezenas de partes humanas. Eu amei-a de vista.
 Ela grunhia como um moribundo,e seu único olho sem pálpebras me fitava vagamente,e eu ia enlouquecendo de desejo viril pela criatura.Até que não resisti e fui a seu encontro,acariciei-a,afaguei como se fosse minha esposa.
Ah, minha belíssima esposa Vitória , meiga , estupendamente linda, com uma tez caramelada de dar inveja às mais abastadas Rainhas da Europa...E que dualidade,ver meu braço ser literalmente devorado pela fera que estava acariciando.
 O sangue escorria quente e lento, e lá vinha a dor.

Que minha alma começava a sentir o efeitos do inferno, e a angústia de ver que só passara dois minutos no pior de todos os lugares, mas agora estava em casa,no chão.
Havia sangue por todo o chão e meu braço de fato fora arrancado.Estava sujo e arranhado,com um gosto de vermes na boca.
Vitória estava ajoelhada ao meu lado,horrorizada e em choque.
 E este é uma pequena ponta do que me espera na morte."



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