O dia dos mortos.
"Erní
observa o sol em seus últimos segundos no horizonte. O Morro da Memória de
Aurora era o ponto mais alto da cidadela de Mikistlicatán; de lá era possível
observar todos os preparativos finais para Lo
día de los muertos. O povo da cidadela acreditava que durante a noite deste
dia, os mortos comungariam o mundo que outrora já lhe pertenceu. Porém também
sabia-se que quando voltavam a estar de pé, os mortos não possuíam espírito (
Yol ) e portanto, apenas o pior da humanidade carregavam em si : Cruéis,
assassinos, vingativos, canibais, e tudo de ruim que suas carnes e ossos
putrefeitos ainda permitissem fazer. Por essa razão, os moradores de
Mikistlicatán saíam da muralha de pedra-e-cipó e enterravam seus mortos no
Jardim da Piedade, a cerca de novecentas braças de distância da cidadela.
Festejavam a vida e a morte por dentro, enquanto os renascidos caminhavam pelo
lado de fora.
Porém havia uma morte irreversível dentro
da cidadela. Uma jovem; que ninguém mais lembra seu nome, origem ou destino;
morrera dentro da estranha estrutura; que como contam lendas e boatos, deveria
ser uma das fundações da Colmeia que seria instalada ali. Misteriosamente; algo
interrompeu a construção, que se tratando dos operários da Colmeia era bastante
ligeira; e ali deixou uma marquise inacabada, com seus muros de metal cromado já
enferrujado e gasto.
O motivo no qual levara a jovem para
dentro das entranhas da sombria marquise era alvo de muitos boatos e histórias,
sempre escutadas de uma conversa de taverna ou em sussuros dispersos pelos
cantos escuros da cidadela. Uma coisa na qual todos concordavam; pois trazia
rastro de existência à lenda; eram os gritos de mulher que vinham de dentro da
marquise, sem hora para acontecer; mas tudo durante a noite. O barulho das músicas,
danças, tagarelas bohêmios e bêbados fazia abafar um pouco o som dos berros.
Por isso, evitavam andar perto das muretas de ferro; excetuando-se os jovens
meninos e meninas que se aventuravam e desafiavam-se a se aproximar o máximo
possível para ouvir de perto um agourento grito. Mesmo os mais valentes se
arrependiam, pois o grito era evidentemente de origem humana, porém contia em
si uma natureza sofria e sombria.
O sol se pusera inteiro, e a noite
esticava seu véu por toda a Federação. Erní se levantara e estava ansiosa para
ir atrás de irmã (Gêmea) Marí. Quando se virou, viu algo totalmente estranho e
perturbador. Três homens de togas vermelho-vinho e capuzes que cobriam todo o
rosto estavam lá, parados. Havia a sensação que estavam a observando por horas;
e como eram tão silenciosos...O medo congelou seu corpo; porém em milésimos de
luta interna tentou um movimento rumo ao penhasco.
Nem pode tentar entender exatamente o que
estava acontecendo ou pelo menos fugir; um baque por trás e desmaiara."
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